A Polícia Federal (PF) deflagrou na tarde de hoje, (2), a 4ª fase da Operação Sermão aos Peixes – Operação Rêmora, para apurar os indícios de desvios de recursos públicos federais destinados ao sistema de saúde do Estado do Maranhão, os quais eram geridos pelo Instituto de Desenvolvimento e Apoio à Cidadania – IDAC, organização social sem fins lucrativos.
A ação conjunta contou com a participação do Ministério Público Federal (MPF), do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU) e da Receita Federal do Brasil (RFB).
Estão sendo cumpridos 19 mandados judiciais, que foram expedidos pela 1ª Vara Criminal Federal da Seção Judiciária do Maranhão, sendo: 4 mandados de prisão preventiva, 1 mandado de prisão temporária, 9 mandados de busca e apreensão.
Além disso, foi determinado o bloqueio judicial e sequestro de bens num total que supera a cifra de R$ 12 milhões.
Entenda o caso:
Durante as investigações conduzidas na denominada Operação Sermão aos
Peixes, foram coletados diversos indícios de que recursos públicos destinados
ao sistema de saúde estadual, os quais eram geridos pelo IDAC, estariam sendo
desviados por meio de vultuosos saques em espécie, que estariam sendo
realizados por um funcionário da organização social diretamente das contas do
Instituto.
Após firmar contratos de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde do
Maranhão, o IDAC passou a receber centenas de milhões de reais dos cofres
públicos, os quais deveriam ser empregados, com exclusividade, na administração
de diversas unidades hospitalares estaduais, tais como: Hospital Regional de Carutapera,
Hospital Geral de Barreirinhas, Hospital Aquiles Lisboa, Hospital de Paulino
Neves, AME Barra do Corda, AME Imperatriz e, recentemente, passou a administrar
também a Unidade de Pronto Atendimento do município de Chapadinha/MA.
A CGU investiga ainda os indícios de que alguns contratos firmados pelo
IDAC com a Secretaria Estadual de Saúde foram aditados com a finalidade de
permitir o saque dos valores acrescidos ao contrato de gestão.
Parte da trama delitiva foi percebida pelo Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (COAF), órgão especializado na prevenção à lavagem de
dinheiro, que detectou que um funcionário do IDAC estaria realizando
constantemente saques de grandes quantias em espécie.
O funcionário chegou a realizar dezenas de saques no valor de R$ 200 mil
e saía da agência levando os valores em dinheiro vivo.
A partir da deflagração da Operação Sermão aos Peixes, em novembro de
2015, os investigados passaram a fragmentar os saques na tentativa de enganar o
COAF, conduta que, no entanto, foi percebida pela PF.
Com o avanço da pesquisa investigativa, verificou-se que os investigados
continuavam em plena atividade delituosa e que os saques de grande quantia de
dinheiro em espécie tinham a finalidade de dificultar o rastreamento dos
recursos públicos supostamente desviados. A investigação ingressava então em
sua fase mais difícil: o rastreamento de valores em espécie.
A partir de então, após representação da Polícia Federal e parecer
favorável do Ministério Público Federal, foi autorizado pela Justiça Federal a
aplicação de técnicas especiais de investigação, notadamente da denominada AÇÃO
CONTROLADA, que permitiu o acompanhamento, em tempo real, das transações
financeiras realizadas pelos investigados.
O monitoramento e ação controlada realizada pela Polícia Federal durou
cerca de 70 dias, oportunidade em que foi possível reunir indícios de que parte
dos valores sacados pelo funcionário eram entregues ao Presidente do IDAC e
seus diretores.
Além disso, foram identificados fortes indícios de distribuição de
valores a agentes políticos, que serviam como padrinhos da Organização Social e
auxiliavam o IDAC na obtenção de contratos públicos.
Ressalte-se que a ação controlada é uma técnica investigativa que
permite que a Polícia retarde sua atuação sobre a prática delitiva a fim de
melhor compreender a forma como o crime é praticado.
Na presente investigação, a ação controlada autorizada judicialmente
permitiu que a PF aguardasse o melhor momento para intervir na prática
delituosa e, nesta tarde, após acompanhar mais um dos saques realizados pelo
funcionário investigado, policiais federais flagraram a entrega dos valores aos
gestores do IDAC, oportunidade em que a operação foi deflagrada, a fim de
permitir a apreensão dos recursos e o cumprimento dos mandados judiciais, com a
consequente prisão dos investigados.
O montante dos recursos públicos federais desviados por meio dos saques
realizados em espécie ainda está sendo contabilizado, mas até o presente
momento a cifra já supera a quantia de R$ 18 MILHÕES.
Tratam-se de recursos públicos que deveriam ser empregados em prol da
parcela mais carente da população maranhense, que depende exclusivamente do
sistema de saúde público.
Os crimes investigados correspondem aos crimes de peculato, lavagem de
dinheiro e organização criminosa, previstos, respectivamente, nos artigos 312,
c/c art. 327, §1º do Código Penal, art. 1º da Lei nº 9.613/98, além do artigo
2º, §4º, inciso II, c/c o artigo 1º, §1º, da Lei 12.850/2013, dentre outros.
Após os procedimentos legais, os investigados serão encaminhados ao
sistema penitenciário estadual, onde permanecerão à disposição da justiça
federal.
RÊMORA (o nome da operação)
O nome da Operação é uma referência a um trecho do Sermão do Padre
Antônio Vieira (1654), que ficou conhecido como o “Sermão aos Peixes”, no qual
o Padre toma vários peixes como símbolos dos vícios e corrupção da sociedade. O
peixe RÊMORA seria pequeno, mas possuiria uma grande força para influenciar os
acontecimentos.
Na natureza, o peixe Rêmora é uma espécie que costuma se agarrar a
tubarões e vive das sobras dos alimentos deixados pelo peixe maior.
No contexto da investigação, o nome Rêmora é uma referência a um
funcionário da Organização Social, que, representa o menor dos investigados,
mas sozinho realizou saques que permitiram o desvio de mais de R$ 18 milhões em
recursos públicos destinados ao sistema de saúde estadual.
A maior parte dos recursos sacados não ficava com o funcionário, pois os
valores teriam sido entregues ao Presidente do Instituto, ou seja, o
funcionário investigado seria apenas uma Rêmora, que se apegava ao Tubarão, que
se beneficiou dos recursos públicos desviados.
FASES ANTERIORES
A primeira fase da Operação Sermão ao Peixes foi deflagrada em
16/11/2015, quando foram cumpridos mais de 60 mandados judiciais e presos os
gestores das duas principais entidades responsáveis pela terceirização do
sistema de saúde à época, a Organização Social INSTITUTO CIDADANIA E NATUREZA –
ICN e a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público BEM VIVER
ASSOCIAÇÃO TOCANTINA PARA O DESENVOLVIMENTO DA SAÚDE.
As segunda e terceira fases foram deflagradas simultaneamente em
06/10/2016, e resultaram na Operação ABSCONDITO, que apurou o embaraço a
investigação criminal decorrente do vazamento da operação Sermão aos Peixes, e
na Operação VOADORES, que apurou o desvio de R$ 36 milhões que haviam sido
sacados diretamente das contas dos hospitais por meio de cheques de pequeno
valor.
Do blog de Neto Ferreira
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