Deus é CARIDADE e da pratica dessa certeza de fé, da testemunho o sobrado no cruzamento da Avenida Presidente Dutra com a Avenida Paulo Ramos, erguido pelo caridoso Coronel Manoel Serra Carneiro – genitor da sogra da escritora Graça Leite – coletor de impostos federais, que faleceu, em 1922, envolto no perfume da caridade que praticava. Ao noticiar sua morte o jornal Cidade de Pinheiro o descreveu “homem de acção, espírito devotado as grandes causas, trabalhador infatigável e desinteressado” e “amigo da pobreza, que protejia generosamente, até o sacrifício”.
Homem de posses, o coronel viajou pela Itália, França, Espanha, Inglaterra, Suíça e Portugal; e, regressando a terra natal, após casar-se, em 1909, com Esther Mendes Carneiro, ergueu a casa que seria o lar e refúgio dos caridosos nubentes e que hoje é um dos últimos edifícios remanescentes da antiga Vila de Santo Inácio do Pinheiro, que permanece de pé, com a distinção de ser o primeiro sobrado erguido na Rua Nova daquela vila, como enfatizado pelo jornal Cidade de Pinheiro, no obituário do coronel.
A Rua Nova virou a Av. Presidente Dutra; e, a vila dilui-se na cidade que esse sobrado viu nascer, das janelas altaneiras de suas sacadas, acompanhando a pressa do progresso que passou na sua porta, a qual tantas vezes aberta, pela já viúva por dona Esther, para socorrer a pobreza que passava na calçada. Nessa casa, onde incontáveis quermesses foram promovidas, angariando importâncias generosas para a construção da Igreja Matriz que, mesmo sem viver par ver a conclusão, dona Esther teve grande participação.
Em 1933, apenas três anos antes de falecer, a viúva caridosa vendeu o sobrado, para o português Américo Azevedo Gonçalves, rico comerciante instalado em Pinheiro, que providenciou para o imóvel um bonito portão com suas iniciais e o ano da compra. Chega o anos de 1946 e nove padres italianos, desembarcam na Faveira, entre eles Dom Afonso Ungarelli, que adquire o terreno de propriedade de Doninha Paiva, que fica em frente a casa; fazendo, posteriormente, com o Sr. Américo Gonçalves, a permuta do terreno pelo sobrado, onde instalou os padres da Prelazia de Pinheiro.
Casa santa, aliás, santíssima! Desde quando tornou-ser residência dos padres Missionários do Sagrado Coração, respira os frescores de uma capela, modéstia, mas rica da graça que se encerra em um sacrário, onde Cristo, que é Caridade, habitou no silêncio da clausura daquele “cofre de graça”, iluminado ininterruptamente pelo clarão de uma lâmpada. O último morador dessa Casa Santa, Pe. Risso, falecido em 09/03/2022, santificou muitas vidas com a pregação da fé, palpável nas suas obras de caridade, testemunhas pelas paredes desse sobrado até o ultimo suspiro, impregnando-a com a caridade que sempre realizou, especialmente à crianças para quem se fez “Vovô Risso”.
Agora, nessa Casa Santa – onde o vazio preenche o sacrário da capela em que por mais de meio século a missa fora celebrada – a lâmpada do sacrário apagada é pressagio de incertezas, inclusive do funcionamento da capela. Nessa hora, para uma casa santa, as palavras de um santo caem bem e como dizia Santo Agostinho: “quem canta reza duas vezes”. Na porta dessa CASA SANTA, onde a caridade há mais de 100 anos fez morada, o futuro certamente há de ouvir, na nossa voz, o canto das taumaturgas e benditas ladainhas aprendidas de nossos avôs.
Oh Deus te salve casa santa,
Onde Deus fez a amorada,
Aonde mora o cálix bento
E a hóstia consagrada.
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