segunda-feira, 5 de julho de 2021

Conversando com Marita ou orando por ela?

 

Graça Leite

Levada pela imaginação nesta tarde triste de domingo, dia 27 de Junho de 2021, dirijo-me ao Outeiro do Finca e de cima do pequeno monte, fito a cidade que também está triste, envolta num melancólico entardecer. Há paz, mas há saudade. Uma fina camada de neblina a envolve. Paira no ar uma sensação de luto e de ausência: Marita faleceu.

Coloco-me de pé, e com as mãos em forma de concha na parte lateral da boca solto um grito de desespero que se perde no descampado: 

– Maritaaaaa!.. Maritaaaaa!

– Porque não respondes?

A resposta vem da brisa ululando, varrendo o capim de marreca na imensidão dos campos.

Sinto que ela está ali, mas não posso vê-la e nem ouvi-la:

– Maritaaaaa!.. Maritaaaaa!

Será que a cortina cósmica que separa os vivos dos mortos, além de impenetrável, tornando-os invisíveis tem, também, isolamento acústico? E se assim for, qual será o sentido das nossas orações pelas almas? Para onde vão? 

Quem as escuta?

Esses são questionamentos para os quais nós aqui da Terra ainda não temos respostas. Mas tu, Marita, agora as tem, és cidadã celestial, participas da onisciência divina, portanto, na dúvida, vamos conversar, ou melhor, vamos orar? Relembrar momentos felizes não é uma oração de agradecimento a Deus 

pela experiência da felicidade?

Vamos lembrar a nossa juventude; o Colégio Santa Teresa, as férias escolares em Pinheiro, as festas no Cassino Pinheirense. E o nosso trabalho educativo no G.E. Odorico Mendes, no Colégio Pinheirense e no saudoso Colégio Anchieta do Maranhão.

Como nos doamos ao Colégio Anchieta quando decidiste transformar o teu pequeno jardim de infância em uma escola de 1° grau e as quatro 

formiguinhas, tu, eu, Terezinha Leite e Anete partimos para a construção de um castelo de sonhos.

Acreditávamos que “Educação por Amor”, sem dinheiro e sem estrutura, poderia salvar a juventude de nossa terra. Foram três anos de totalentrega, seguidas por total desalento. Ruiu o castelo de sonhos, mas a nossa amizade sobreviveu: haviam os nossos encontros de casais no famoso “Clube dos 5” (Zé Maria x Marita, Ubaldo x Gracinha Pimenta, Deusdedit x Gracinha 

Leite, Raimundo Golçalves x Athayde, Goulart x Maria Helena); haviam os jogos de buraco, os jantares na churrascaria Du Magro, as serenatas do Goulart após as festas no Cassino, as ceias de bagres, enfim a nossa união perdurou.

Os nossos filhos cresceram e lá fomos nós para São Luís, no mesmo estilo, nós lá e os maridos aqui. Na UFMA nos reencontramos novamente e o “Clube das Dezpreocupadas” selou a nossa amizade.

Finalmente veio a APLAC e Marita e Gracinha lá estavam. Foi lá que os teus talentos voltaram a aflorar. Nós, eu, Zé Márcio, Moema, Aymoré, Sandra, 

que sempre estivemos contigo, sabíamos do brilhantismo da tua mente, mas os mais novos surpreenderam-se com a tua criatividade e a versatilidade dos teus talentos. Eras uma verdadeira usina de ideias, aliás, foi a tua criatividade que batizou a nossa casa com esse nome, uma alusão ao antigo prédio onde funcionava a nossa usina elétrica.

A tua ausência na APLAC terá o efeito de uma usina em pane, parada. 

A válvula vai ter que ser substituída porque a usina tem que funcionar, porém, nenhuma substituição terá o teu selo original que produziu tanta luz. 

Há luto na Academia e em nossos corações aplaquianos. Nenhum membro desta casa conseguirá traduzir em palavras a tua ausência, nem que seja o maior dos eruditos. Consciente da minha insuficiência para tanto, recorro ao plágio, ao nosso grande e velho ídolo, cantor brasileiro: Nelson Golnçalves “Naquela cadeira de n°29 está faltando ela e a saudade dela está doendo em nós”.

Pinheiro, 27 de Junho de 2021.

Ao finalizar esta crônica, percebo que já é noite. O dia se foi, um dia triste,carregado, impregnado de lembranças, mas amanhã o sol voltará a brilhar com toda a sua exuberância.

Essa constatação não será a resposta de Deus aos meus gritos por Marita? 

Não será uma mensagem de esperança que Ele nos envia através da natureza?

NENHUMA CRIAÇÃO DE DEUS MORRERÁ. HAVERÁ SEMPRE UM 

AMANHÃ DA RESSURREIÇÃO.

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