Final de fevereiro de 2006, eu estava na condição de Secretário de Estado no Maranhão. Voltava para casa depois de mais um dia extenuante de trabalho. Como já era tarde da noite, algo como 21h, eu mesmo estava ao volante da caminhonete oficial. Havia liberado o motorista para o seu descanso necessário.
Nesse clima o telefone móvel tocou. Do outro lado da linha estava o Governador Zé Reinaldo. Pedia para eu ir ao Palácio naquele momento porque ele tinha algo de urgência para falar comigo. Como era um período de intensa movimentação politica, com mudanças de Secretários, imaginei que ele estava me chamando para avisar-me que a minha contribuição ao Governo dele havia encerrado. Demissão à vista. Especulei.
Lá fui eu com o pé em baixo no acelerador. Encontrei-o com a feição serena. Recebeu-me. Gentilmente indicou-me o assento à sua frente. Eu estava com indumentária de Secretário, com aquelas roupas formais que eu sempre detestei.
Ele foi incisivo. Perguntou-me se eu aceitaria assumir a Secretaria de Agricultura. Assim mesmo, sem rodeios ou meia palavras.
Naquele momento por minha cabeça passou um turbilhão de pensamentos. Nos meus maiores devaneios (quem me conhece sabe que eu sou um sonhador inveterado) jamais passou pela cabeça chegar àquele posto. Uma Secretaria que tinha o terceiro maior orçamento do Estado. Capilaridade em todos os 217 municípios. Cargos em profusão para distribuir. Poder demais. Claro que deveria haver deputados, correligionários do Governador, que estariam de olho naquele filé.
Eu não tinha, como continuo não tendo “sangue azul”. Não tinha vinculação partidária alguma, situação que perdura. Não tinha qualquer politico na minha retaguarda. Sequer tinha votos para oferecer ao Governador. A rigor, nem o meu próprio voto, porque sou eleitor em Fortaleza. Qual a razão daquele convite? Questionei-me.
Naquele turbilhão avassalador de pensamentos eu só tive uma reação. Eu disse para ele que aceitaria, mas gostaria que ele permitisse que começássemos na Secretaria um trabalho de recuperação da mata ciliar do Rio Itapecuru. Um rio fundamental para os maranhenses que estava, e continua estando, agonizando pelo maltrato que nós, os seres humanos racionais e inteligentes, o impomos todos os dias.
Naquele turbilhão avassalador de pensamentos eu só tive uma reação. Eu disse para ele que aceitaria, mas gostaria que ele permitisse que começássemos na Secretaria um trabalho de recuperação da mata ciliar do Rio Itapecuru. Um rio fundamental para os maranhenses que estava, e continua estando, agonizando pelo maltrato que nós, os seres humanos racionais e inteligentes, o impomos todos os dias.
O Governador olhou-me com aquela surpresa de quem esperava que eu solicitasse uma Secretaria de “porteira fechada” e aquiesceu. Não sem antes avisar que o orçamento que houvera sido aprovado no ano anterior pela Assembleia Legislativa não previa grana para o trabalho, mas que ele, Governador, iria se empenhar para buscar fontes. E tinha o PRODIM que estávamos batalhando para aprovar no Senado.
A minha posse ocorreu em 5 de março de 2006 diante de um plenário lotado. No meu discurso eu falei do projeto e disse que em 5 de junho daquele ano, dia internacional do meio ambiente, o Governador plantaria as primeiras mudas do projeto.
Cerquei-me de uma equipe pequena, mas competente. Dois ex-orientados meus, uma excelente Chefe de Gabinete e um ex-colega de Liceu que é Engenheiro e tem Doutorado na USP. Essas eram as pessoas que faziam parte do meu “Núcleo Duro”. Todas bem qualificadas, compenetradas e comprometidas e que fizeram acontecer.
Em 5 de junho de 2006, numa tarde de segunda feira muito quente no município de Codó, fizemos o plantio das primeiras mudas do projeto piloto que previa recuperar 6 hectares e acabou recuperando 12. Com o mesmo recurso. Uma multidão testemunhou aquele evento. Crianças das escolas municipais de Codó se encarregaram de fazer uma bela festa. As comunidades ribeirinhas se apropriaram do projeto. Resultado, eu não consegui discursar e desabei em prantos. Aquele 5 de junho de 2006 foi um dos dias mais intensos da minha vida como profissional de Ciências Agrárias.
Treze anos depois estou diante de outro desafio daquele. Eu ficava intrigado com o fato de no povoado em que eu nasci, que hoje reúne em torno de 300 famílias, prenhe de natureza bela, não possuir um único exemplar da planta que lhe empresta o nome.
O Povoado se chama Paricatiua, cuja etimologia significa: local abundante em Paricás. Uma espécie de porte arbóreo da família das leguminosas (acácias, flamboyants, algarobas, sabiás,…) que tem habitat em locais de intensa umidade. Exatamente como acontece na nossa Baixada Ocidental aonde se encontra o povoado. Então imaginei um projeto para plantar Paricás em Paricatiua. Já faz algum tempo que eu acalento o sonho que agora finalmente está se materializando. O Fórum da Baixada, espécie de ONG (não daquelas que recebem dinheiro público para fazer proselitismo do governante de ocasião) encampou a ideia. E da forma que eu a concebi.
Um colega que é Engenheiro Agrônomo da UEMA, Fera em Fruticultura, se disponibilizou a produzir as mudas envolvendo estudantes de Agronomia. Crianças das escolas municipais de Paricatiua irão visitar o canteiro aonde as mudas crescerão.
Um colega que é Engenheiro Agrônomo da UEMA, Fera em Fruticultura, se disponibilizou a produzir as mudas envolvendo estudantes de Agronomia. Crianças das escolas municipais de Paricatiua irão visitar o canteiro aonde as mudas crescerão.
Em janeiro de 2019, na época das chuvas, faremos o grande evento de plantar ao menos 250 mudas de “Paricás em Paricatiua. Um sonho possível”. (A logomarca do projeto). Crianças e idosos serão requisitados, preferencialmente, para plantarem as primeiras mudas, darem nomes a elas e tomarem de conta. Mas toda a população de Paricatiua será convidada a participar. Faremos uma festa linda com foguetório, banda de fanfarra. Ainda bem que as minhas batidas cardíacas estão em 12 X 8. Apenas uma coisa eu não prometo. Não desabar em prantos nesse dia que será memorável.
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