terça-feira, 8 de julho de 2014

Meu dileto filho José,

Pelos jornais fiquei sabendo a sua decisão em não mais concorrer a cargos eletivos, o que considero tratar-se de mais um ato heroico na sua vida.
            Como mãe, não posso omitir os meus sentimentos, momento tão importante para você, pois sei que uma decisão como essa, implica em dúvidas e sofrimentos, tal o seu amor pela política. É como se uma grande história de amor chegasse ao fim e você, e não a outra parte, tivesse que, tomar a decisão final. Dói e dói muito. Não que a parceira tivesse lhe causado desilusões, pelo contrário, a política sempre fez parte da sua vida e durante quase seis décadas de um casamento amoroso e pacífico, ela sempre foi uma amante submissa e leal. Daí o conflito.
            Com a nossa idade, sempre avaliamos os fatos com mais coerência e graças a ela, você tomou a decisão certa. Chegou a hora do descanso do guerreiro! Chegou a hora do povo brasileiro fazer uma releitura da sua atuação política e reconhecer os seus méritos. Chegou a hora da literatura, da prosa, da poesia, do viver para si, para a família, tantas vezes sacrificada pelos compromissos públicos.
            Mas lembre-se do conselho do poeta: “envelhecemos quando abandonamos os nossos sonhos”. Pela sua história de vida, sei que você não fará da velhice uma vigília que incomoda, mas saberá aproveita-la muito bem, com bons sonhos.
            São dúbios os sentimentos da sua velha mãe-terra, nesta hora.
Se por um lado sinto-me quase órfão de um filho-pai que tanto me ajudou carreando recursos públicos para nós, por outro lado, sinto-me feliz por vê-lo livre da maledicência humana que não perdoa aos vencedores e está sempre com as mãos cheias de pedras para serem lançadas sobre os nobres e heróis. Todas as vezes que apedrejaram você, foi a mim, sua mãe-terra, que eles apedrejaram. Mas, como você, não guardo ressentimentos e, além do mais, sabendo-o livre dos encargos públicos, posso desfrutar mais da sua companhia. Venha! A casa é sua, a família é sua, a terra é sua!
            Venha, quando puder, participar das reuniões da APLAC; venha andar pelas ruas, sentar nas praças; venha ver de peto o velho Pericumã e talvez até passear sobre o seu leito em uma canoinha, deixando a mão dentro d’água pra fazer marolas; venha experimentar esse contato direto com as suas raízes, usufruindo das energias regeneradoras que fluem desse contato.
            Pensa da seguinte maneira:
            Perdemos o Sarney Senador da República, porém ganhamos um Sarney com mais tempo para nós, um conselheiro, um orientador, um amigo mais chegado, mais presente e isso é tudo o que anseia uma pobre mãe.
            Para aqueles que o consideram um derrotado, um perdedor, a sua mãe-terra manda um recadinho:
            Diga a eles, que o seu caso de amor com a política, não termina como na tragédia Shakespeariana, pelo contrário, o Romeu e a Julieta desta história estão vivos e bem vivos, apenas o pano de palco fechou sob os aplausos da plateia que, de pé, grita uníssona:
            Bravos!
            Bravos!
            Bravos!
                                               Com grande afeto, sua mãe-terra
                                               Cidade de Pinheiro

                                               Graça Leite
                                               APLAC – Cad.Nº 21

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