Rapidamente eles se foram.
Em apenas um semestre a APLAC perdeu quatro
membros, a sociedade pinheirense perdeu quatro sustentáculos e todos nós
perdemos três amigos e uma amiga.
Esse enigma vida e morte morte-morte e vida mexe
com a gente,deixa-nos sempre muitas dúvidas,questionamentos e até medo quando
percebemos que a nossa faixa etária pertence a safra que ainda não colhida mas
os frutos já estão maduros na eminência de serem ceifados a qualquer momento.
Traquino,Napoleão,Ceci e Lourival todos os quatro
frutos amadurecidos e alimentados pela ceiva de uma árvore chamada Pinheiro,
foram sementes,brotaram,cresceram,floriram e deram frutos.Somente Napoleão não
germinou neste solo,mas chegou aqui brotinho o que foi enxertado no tronco da
grande árvore centenária e com os demais deu flores e frutos.
Quando a APLAC recebe um novo membro, ele é saudado
por alguém que já fez parte do quadro. Quando parte é justo que a cadeira vazia
seja cultuada como símbolo daquele que a ocupava.
Quatro cadeiras ficaram vazias em nossa casa .Três
confrades e uma confreira que enriqueceram com sabedoria e dedicação, passaram
a existir apenas em forma de lembrança.
Por ordem de falecimento foram eles:
TARQUÍNIO DE CASTRO LEITE
Tarquínio era filho de Chico Leite.Como cedo deixou
o torrão Natal,provavelmente que hoje a maioria dos habitantes de Pinheiro não
o conhecia, porém os seus livros de poesias estão para atestar o seu talento.
Era oficial da Aeronáutica,reformado e residia em
Goiânia,capital do Estado de Goiás,onde notabilizou-se pelos méritos pessoais e
pela capacidade criadora do seu desempenho como cidadão. Era poeta,foi
professor e por muitos anos ocupou o cargo de Diretor do DETRAN daquela cidade.
Tarquínio transpirava tranquilidade e sua
sensibilidade poética era demonstrada nos versos que compunha a maioria com
temas relacionados a Pinheiro,sua terra natal.A flora,a fauna,os costumes tudo
ele deixou registrado nas belas poesias que escreveu.Ocupou a cadeira nº 15
Patrono: Clóvis Moraes (escritor).
NAPOLEÃO DO CARMO CARDOSO E SILVA
Homem de fé em Deus e confiança nos homens.
Era Apóstolo leigo da Igreja Católica de Pinheiro e
como tal pregava com a palavra e convencia pelo exemplo.Humilde e dedicado,pacífico,criou
11 filhos com a dedicação de pai que não possuindo recursos
financeiros,serve-se da ética e da moral para conduzir sua família pelos
caminhos do bem e do saber,herança que legou aos filhos ao partir.
Embora não fosse um "Napoleão Bonaparte",
era contudo um guerreiro, um conquistador diário daqueles que dia a dia
conquista o seu sustento e a simpatia de todos.
Poeta,cristão,ocupou a cadeira nº 15 que tem como
Patrono o seu falecido irmão e também poeta Abrão do Carmo Cardoso e Silva.
AURELINA CATARINA AMORIM (Ceci)
Quem passou pelo Colégio Pinheirense não pode
esquecer a professora Ceci dando aulas da Língua Portuguesa com sabedoria e
eficiência da 1ª a 4ª serie do antigo Ginásio.
Depois de exercer o magistério,destacando-se como mestra
e amiga,D.Ceci passou a Diretora do Colégio Pinheirense, cargo que ocupou por
muitos anos,exercendo á arte pedagógica que instrue com autoridade sem contudo
abdicar da compreensão amorosa que reforça a autoestima do educando.
Ao lado do saudoso Frei José, conduziu aquela casa
de Educação,elevando-a a título da melhor escola particular do interior do
Estado do Maranhão, e os ex-alunos hoje mestres e doutores ai estão
contribuindo para tornar mais digna a nossa Pátria.
Os caderninhos de Dona Ceci, foram apostilas que
levaram muitos pinheirense aos bancos universitários.
Ma galeria sentimental de alunos e ex-alunos do
Colégio Pinheirense a lembrança de Dona Ceci e Frei José ocuparão sempre um
lugar de destaque e na nossa casa de cultura na Usina de Ideias ela será
lembrada como a nossa musa, aquela que abriu as portas da APLAC para a maioria
daqueles que ai estão.
Dona Ceci ocupava a Cadeira de nº 30 que tem como
Patronesse Ricarda Araújo Sodré(Prof Dona Ricardina) .
LOURIVAL DE CASTRO GOMES
Era chamado carinhosamente de Sr. Lola pelos mais
íntimos.
Passou a maior parte de sua juventude em São
Luís,mas quando veio a aposentadoria,decidiu voltar a sua terra natal e aqui
fixou residência.
Era técnico em laboratório e durante longos anos
trabalhou no Instituto Osvaldo Cruz e no laboratório do Dr. Fiquene seu amigo e
companheiro das lâminas de pesquisas.Por considerá-lo competente o Dr.Fiquene,
professor universitário da cadeira de Parasitologia (Faculdade de Medicina) delegava
a Lourival os encargos das aulas práticas na Universidade,cujo alunos o
estimavam muito.
Seu Lola era um artista.A arte artesanal deu-lhe
passaporte para APLAC.Muito criativo reproduzia objetos do nosso
cotidiano,fauna,flora e até representações folclóricas da nossa gente.Famosa é
a sua orquestra de Cangaceiros Pé de Serra feitos com bonecos de madeira
que tocam e dançam(ligados por fios elétricos)as músicas tocadas em CD nos
aparelhos de som.Nas apresentações da orquestra ele e alguns amigos,caracterizados
imitavam a orquestra com instrumentos verdadeiros, cujos músicos obedeciam ao
som.Saxofone,acordeom,bateria,triângulo todos os instrumentos imitava.
Sr. Lourival nos deixou aos 93 anos mas possuía o
espírito de um jovem.Ocupava a cadeira de número 18 que tem por Patrono o
inesquecível Padre Newton Pereira.
Eis o perfil resumido dos nossos saudosos
companheiros.
Se a vida do lado de lá for a continuação da lado
de cá,certamente que Tarquínio estará passeando pelos jardins do céu,observando
as flores amarelas e as rolinhas fogo pagou que ele tanto amava,Sr,Napoleão com
Bíblia na mão explicando o Evangelho aos recém chegados.Dona Ceci com uma
caneta na mão e o horário diário das aulas,andará de sala em sala,remanejando
os Santos professores,suprindo os faltosos e recomendando para não deixarem de
ensinar aos alunos análise dos "Luisíades" de Luís de Camões e
Sr.Lourival com a sua batuta,estará regendo a orquestra" Pé de Serra"
tentando adaptar o coro angelical aos ritmos do triângulo e do sabumba.
O que pode parecer irreverência no final
desta crônica é apenas uma maneira de colocar um pouco de humor nas
cadeiras vazias,disfarçando as SAUDADES.
Graça Leite
Cadeira nº 21
APLAC
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