Seis meses depois de o Governo do Maranhão fazer propaganda por todo o estado com uma caravana de estruturas metálicas para a ponte Central-Bequimão, o material está enferrujando, exposto a sol e chuva, à beira de uma pista de piçarra que dá acesso ao canteiro da obra.
O caso foi revelado por Mellquisedeque Allmeida, morador de Bequimão, que esteve no início da semana no local onde a ponte já deveria ter sido erguida – segundo o contato, a obra deveria ter sido entregue em setembro de 2018 – e publicou um vídeo em seu canal no YouTube.
Segundo ele, que também esteve na obra em junho do ano passado, desde aquela época o único avanço foi a construção de dois pilares de sustentação do que deve ser a cabeceira da ponte.
“Apenas isso foi o adiantamento de junho [de 2018] para cá. Não tem mais nada. Até um maquinário que tinha aqui, umas ferramentas que tinham aqui, não tem mais”, relatou.
A chegada do material que hoje se deteriora no canteiro de obras ocorreu em meio à campanha eleitoral do ano passado. Em carretas e envoltas em material publicitário, as peças metálicas atravessaram o Maranhão, anunciando o avanço dos trabalhos (relembre).
Na ocasião, por meio do Twitter, o próprio Flávio Dino publicou uma foto dos “caminhões-outdoor” e comentou a chegada do material.
“Hoje chegarão ao canteiro de obras as estruturas metálicas da tão aguardada Ponte Central/Bequimão, fabricadas durante meses e agora prontas para fazer a obra avançar, com o término das chuvas”, declarou. Mas o período chuvoso passou, já recomeçou, e a obra não saiu do lugar.
Discurso
Anunciada pelo governador Flávio Dino (PCdoB) como o “fim de uma lenda” durante a assinatura da ordem de serviço, a construção da ponte Central-Bequimão foi autorizada pelo comunista em setembro de 2016.
Segundo o contrato firmado entre a Secretaria de Estado da Infraestrutura (Sinfra) e o Consórcio Epeng-FN Sondagens, a execução dos trabalhos deveria durar dois anos, a partir da assinatura da OS. Esse prazo venceu no dia 28 de setembro do ano passado (saiba mais).
Apesar da lentidão da obra, o Consórcio Epeng-FN Sondagens já recebeu valores milionários do Governo do Estado. Dados do Portal da Transparência apontam que até esta semana a Sinfra já havia realizado pagamentos de R$ 16,7 milhões. O valor total do contrato é de R$ 68,3 milhões.
A Epeng pertence a Francisco Antelius, maranhense preso em 2016 no Tocantins, no bojo da Operação Ápia, da Polícia Federal, que disse ter identificado fraudes em contratos de terraplanagem e pavimentação em 29 rodovias do estado vizinho.
De acordo com os federais, o esquema foi realizado entre os anos de 2013 e 2014, período durante o qual foram desviados cerca de 25% dos valores de um empréstimo internacional de R$ 1,2 bilhão ao Estado do Tocantins – com recursos do BNDES envolvidos.
A polícia acredita que os desvios chegam a R$ 200 milhões, dinheiro que teria sido repassado às empresas contratadas – a Epeng, inclusive – mesmo sem a conclusão das obras contratadas pelo Executivo. Há suspeitas de que parte dos recursos tenham sido desviados para campanhas eleitorais.
Em depoimento, o empreiteiro chegou a confessar o pagamento de ropina no Tocantins.
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