quarta-feira, 18 de junho de 2014

DISFARÇANDO AS SAUDADES



Rapidamente eles se foram.
Em apenas um semestre a APLAC perdeu quatro membros, a sociedade pinheirense perdeu quatro sustentáculos e todos nós perdemos três amigos e uma amiga.
Esse enigma vida e morte morte-morte e vida mexe com a gente,deixa-nos sempre muitas dúvidas,questionamentos e até medo quando percebemos que a nossa faixa etária pertence a safra que ainda não colhida mas os frutos já estão maduros na eminência de serem ceifados a qualquer momento.
Traquino,Napoleão,Ceci e Lourival todos os quatro frutos amadurecidos e alimentados pela ceiva de uma árvore chamada Pinheiro, foram sementes,brotaram,cresceram,floriram e deram frutos.Somente Napoleão não germinou neste solo,mas chegou aqui brotinho o que foi enxertado no tronco da grande árvore centenária e com os demais deu flores e frutos.
Quando a APLAC recebe um novo membro, ele é saudado por alguém que já fez parte do quadro. Quando parte é justo que a cadeira vazia seja cultuada como símbolo daquele que a ocupava.
Quatro cadeiras ficaram vazias em nossa casa .Três confrades e uma confreira que enriqueceram com sabedoria e dedicação, passaram a existir apenas em forma de lembrança.
Por ordem de falecimento foram eles:

TARQUÍNIO DE CASTRO LEITE
Tarquínio era filho de Chico Leite.Como cedo deixou o torrão Natal,provavelmente que hoje a maioria dos habitantes de Pinheiro não o conhecia, porém os seus livros de poesias estão para atestar o seu talento.
Era oficial da Aeronáutica,reformado e residia em Goiânia,capital do Estado de Goiás,onde notabilizou-se pelos méritos pessoais e pela capacidade criadora do seu desempenho como cidadão. Era poeta,foi professor e por muitos anos ocupou o cargo de Diretor do DETRAN daquela cidade.
Tarquínio transpirava tranquilidade e sua sensibilidade poética era demonstrada nos versos que compunha a maioria com temas relacionados a Pinheiro,sua terra natal.A flora,a fauna,os costumes tudo ele deixou registrado nas belas poesias que escreveu.Ocupou a cadeira nº 15 Patrono: Clóvis Moraes (escritor).

NAPOLEÃO DO CARMO CARDOSO E SILVA
Homem de fé em Deus e confiança nos homens.
Era Apóstolo leigo da Igreja Católica de Pinheiro e como tal pregava com a palavra e convencia  pelo exemplo.Humilde e dedicado,pacífico,criou 11 filhos com  a dedicação de pai que não possuindo recursos financeiros,serve-se da ética e da moral para conduzir sua família pelos caminhos do bem e do saber,herança que legou aos filhos ao partir.
Embora não fosse um "Napoleão Bonaparte", era contudo um guerreiro, um conquistador diário daqueles que dia a dia conquista o seu sustento e a simpatia de todos.
Poeta,cristão,ocupou a cadeira nº 15 que tem como Patrono o seu falecido irmão e também poeta Abrão do Carmo Cardoso e Silva.



AURELINA CATARINA AMORIM (Ceci)
Quem passou pelo Colégio Pinheirense não pode esquecer a professora Ceci dando aulas da Língua Portuguesa com sabedoria e eficiência da 1ª a 4ª serie do antigo Ginásio.
Depois de exercer o magistério,destacando-se como mestra e amiga,D.Ceci passou a Diretora do Colégio Pinheirense, cargo que ocupou por muitos anos,exercendo á arte pedagógica que instrue com autoridade sem contudo abdicar da compreensão amorosa que reforça a autoestima do educando.
Ao lado do saudoso Frei José, conduziu aquela casa de Educação,elevando-a a título da melhor escola particular do interior do Estado do Maranhão, e os ex-alunos hoje mestres e doutores ai estão  contribuindo para tornar mais digna a nossa Pátria.
Os caderninhos de Dona Ceci, foram apostilas que levaram muitos pinheirense aos bancos universitários.
Ma galeria sentimental de alunos e ex-alunos do Colégio Pinheirense a lembrança de Dona Ceci e Frei José ocuparão sempre um lugar de destaque e na nossa casa de cultura na Usina de Ideias ela será lembrada como a nossa musa, aquela que abriu as portas da APLAC para a maioria daqueles que ai estão.
Dona Ceci ocupava a Cadeira de nº 30 que tem como Patronesse Ricarda Araújo Sodré(Prof Dona Ricardina) .

LOURIVAL DE CASTRO GOMES
Era chamado carinhosamente de Sr. Lola pelos mais íntimos.
Passou a maior parte de sua juventude em São Luís,mas quando veio a aposentadoria,decidiu voltar a sua terra natal e aqui fixou residência.
Era técnico em laboratório e durante longos anos trabalhou no Instituto Osvaldo Cruz e no laboratório do Dr. Fiquene seu amigo e companheiro das lâminas de pesquisas.Por considerá-lo competente o Dr.Fiquene, professor universitário da cadeira de Parasitologia (Faculdade de Medicina) delegava a Lourival os encargos das aulas práticas na Universidade,cujo alunos o estimavam muito.
Seu Lola era um artista.A arte artesanal deu-lhe passaporte para APLAC.Muito criativo reproduzia objetos do nosso cotidiano,fauna,flora e até representações folclóricas da nossa gente.Famosa é a sua orquestra de Cangaceiros  Pé de Serra feitos com bonecos de madeira que tocam e dançam(ligados por fios elétricos)as músicas tocadas em CD nos aparelhos de som.Nas apresentações da orquestra ele e alguns amigos,caracterizados imitavam a orquestra com instrumentos verdadeiros, cujos músicos obedeciam ao som.Saxofone,acordeom,bateria,triângulo todos os instrumentos imitava.
Sr. Lourival nos deixou aos 93 anos mas possuía o espírito de um jovem.Ocupava a cadeira de número 18 que tem por Patrono o inesquecível Padre Newton Pereira. 
Eis o perfil resumido dos nossos saudosos companheiros.
Se a vida do lado de lá for a continuação da lado de cá,certamente que Tarquínio estará passeando pelos jardins do céu,observando as flores amarelas e as rolinhas fogo pagou que ele tanto amava,Sr,Napoleão com Bíblia na mão explicando o Evangelho aos recém chegados.Dona Ceci com uma caneta na mão e o horário diário das aulas,andará de sala em sala,remanejando os Santos professores,suprindo os faltosos e recomendando para não deixarem de ensinar aos alunos análise dos "Luisíades" de Luís de  Camões e Sr.Lourival com a sua batuta,estará regendo a orquestra" Pé de Serra" tentando adaptar o coro angelical aos ritmos do triângulo e do sabumba.
O que pode parecer irreverência no final desta  crônica é apenas uma maneira de colocar um pouco de humor nas cadeiras vazias,disfarçando as SAUDADES.


Graça Leite
Cadeira nº 21
APLAC

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