segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Pronunciamento do ex-deputado José Jorge Leite Soares por ocasião do recebimento do Título de Cidadão Ludovicense



Movido pelo sentimento da emoção, recebo esta homenagem encarando-a não como merecimento, mas, sim, como incentivo a minha conduta ao longo da vida.
Pelo período em que tenho vivido aqui em São Luís, dediquei-me a esta linda cidade que me recebeu de braços sempre abertos, conquistei o respeito de seus cidadãos, amealhei muitos amigos e devo a isso, creio eu, o recebimento deste tão importante título.
Ao nobre vereador Ivaldo Rodrigues, autor da Mensagem, como aos demais parlamentares que a ratificaram, muitos deles amigos queridos e companheiros de outras tantas batalhas políticas, não poderia deixar de expressar o meu sentimento de gratidão e dizer quão orgulhoso me sinto neste momento.
Minha certidão de nascimento registra que nasci em Pinheiro. Mas tenho outras cidadanias que recebi ao longo da vida como reconhecimento por dedicação e trabalho prestado a elas. Pedro do Rosário, Presidente Sarney, São Bento, São Vicente Ferrer, Esperantinópolis e Guimarães. Essas certidões me enchem de orgulho e são a prova maior de que vale a pena ser político.
Esta Casa, que abriga os legítimos representantes do povo, atravessa um momento em que a credibilidade da classe política, no País como um todo, atinge o seu mais baixo patamar na avaliação da sociedade brasileira.
Lembro do líder africano Martin Luther King ao dizer: “O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos, não é o grito dos maus, mas, sim, o silêncio dos bons”.
Essa onda de pessimismo acaba inibindo o aparecimento das boas vozes que se levantam em favor da sociedade e permitindo que seja abafada pelos oportunistas que teimam em ocupar esses espaços vazios.
Muito embora não pretenda retornar à atividade político partidária, penso que posso continuar a desempenhar um importante trabalho sem a necessidade do mandato eletivo, e vejo, aqui nesta Casa, exemplos de inúmeros parlamentares que nos orgulham e ainda nos fazem compreender que ainda vale a pena ser político. Sobretudo quando as idéias defendidas com sinceridade, coerência e atitudes nobres, se transformam em algo concreto. E são reconhecidas pelos eleitores que, no dia da eleição, saem de casa com o pensamento voltado para o seu candidato a fim de depositar não somente o voto, mas ratificar a confiança em seu representante.
Vossa Excelência, vereador Ivaldo, é um desses exemplos. 

Quero lhe dizer, meu prezado vereador Ivaldo, que acompanho a atuação de Vossa Excelência ao longo desses anos, sempre incansável na busca para levar benefícios e lutar que melhoria da qualidade de vida de seus representados.
No que me toca, tenho a consciência tranquila de que, enquanto tive assento no Plenário da Assembleia Legislativa de meu estado, fiz a minha parte. Pelo menos tentei.
Fosse eu classificar etapas de minha vida, a faria em quatro atos bem distintos:
A primeira delas, a infância, vivida com muita intensidade nos verdes campos de Pinheiro. Minhas recordações sempre me levam à Pinheiro. As palmatórias de Mundica Costa nas aulas de tabuada, os cascudos de Padre Risso na formação da Procissão de Santo Inácio de Loyola, nosso padroeiro, as aulas de matemática de Dona Nenem, o gosto pela História encantado com as descrições da professora Terezinha Leite, o conhecimento de Geografia incentivado por Maria Alice e tantos outros mestres, que são, no fundo, os verdadeiros merecedores desta certidão que carregarei comigo com muito orgulho. A eles dedico e com eles compartilho tão importante título.
Assim como a grande maioria dos que aqui se encontram, bem cedo tive que abandonar o carinho da família em busca de conhecimento.
Olhando para traz já consigo enxergar um rastro e tenho consciência que esse caminho foi construído, foi moldado, nos ensinamentos que recebi ao longo da minha formação.
De meu saudoso pai, que se aqui estivesse estaria com os olhos marejados de emoção ao ver o filho sendo reconhecido por esta Nobre Casa e receber esta honrosa homenagem, procurei seguir os exemplos de correção, de seriedade e a vontade de trabalhar.
De minha mãe, esta jovem senhora no resplendor de seus quase 90 anos vividos com a alegria contagiante e com uma energia de fazer inveja a qualquer um (Bete, minha mulher, diz que fica cansada só de vê-la trabalhar...), aprendi a valorizar os aspectos positivos de qualquer situação, herdei o otimismo e a alegria de viver.
Mais tarde, li de Mario Quintana, que:
“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já se passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo:
 Não deixe de fazer algo que gosta, devido à falta de tempo,
pois a única falta que terá,
será desse tempo que infelizmente não voltará mais.”
De meu querido avô Chico Leite assimilei duas máximas: O que há de ser feito que seja já! Nem sempre se faz aquilo que gosta, mas é fundamental gostar do que se faz”. 

Na segunda etapa de minha vida, os ventos do destino me conduziram aos quatorze anos a Brasília. Singrei o leito do Pericumã ao sabor de suas águas, vi ao largo as luzes de Guimarães, ultrapassei a Pedra de Itacolomy, venci os banzeiros do Boqueirão e desembarquei na rampa Campos Melo com destino a Brasília. Sem ter feito nenhum estágio civilizatório aqui em São Luís, vivenciei o início da consolidação da capital Federal. Tive o privilégio de ter como professores, Darcy Ribeiro, Cesar Lates, Celso Furtado, Urbano Ernest Stumpf, dentre tantos grandes expoentes do conhecimento nacional.
Eles fizeram a minha cabeça e alicerçaram meu sonho de me tornar engenheiro.
O terceiro momento, já como engenheiro mecânico, lancei-me ao mercado de trabalho em São Paulo e mais tarde, guiado pelas mãos de Deus, cheguei a Recife onde fui aquinhoado com um tesouro.  Encontrei Bete, a mulher dos meus sonhos e da minha vida que me apoia e me afaga ao longo destes quase 40 anos.
De Recife a Belo Horizonte. De Belo Horizonte ao Rio de Janeiro. Sempre em busca de novas oportunidades e novos ensinamentos. Os meus filhos Júlia e Bruno, nascidos no Rio, têm sido, a partir daí uma razão a mais para viver.
12 anos depois, ao primeiro convite para retornar a terra natal, relembrei-me de Gonçalves Dias...
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.”
 Não hesitei. Nossas raízes são muito fortes. Tenho um amigo que dizia que “a gente sai de Pinheiro, mas Pinheiro não sai da gente...”

Atendendo ao chamado de meu amigo Fernando Sarney, em 1986 vim compor sua equipe gestora à frente da Cemar. Desde essa época finquei minhas raízes na Ilha do Amor e a escolhi para viver. Graças a esse honroso convite, pude criar os meus filhos num ambiente tranquilo, numa cidade pacata e consolidar minhas amizades cultivadas com carinho. Comecei a conhecer melhor a nossa realidade. As visitas ao Interior do Estado atiçaram o meu coração e me fizeram ver que precisava fazer algo para mudar essa realidade. Um sonho! Fechava os olhos e surgia na minha mente um manto dourado com um horizonte infinito. Eram as flores amarelas flutuando sobre águas do Pericumã.
Com um simples control Z, minha mente buscava as imagens das conversas na casa de meu avô Chico Leite. Já naquele tempo, ele me permitia escutar conversa de gente grande... Cresci ouvindo conversas de Antenor Abreu, Orlando Leite, José Sarney, Alexandre Costa, meu tio Jurandy Leite, Dedeco, Afonso e Maneco Paiva, João Moreira, Zé Grande e Gereba, entre tantos.
Quando me decidi a concorrer ao cargo de prefeito de minha cidade, lembro os comentários de amigos, alguns dos quais se encontram aqui presentes, também nascidos no Interior do Maranhão e que tiveram a oportunidade de sair em busca do conhecimento.
Um me dizia: Vais largar tudo isso para te meter numa campanha a prefeito de Pinheiro? Te invejo dizia o outro!
Tentei! Não me arrependo! Fiz a minha parte! Enfrentei as dificuldades das campanhas feitas com a inocência dos propósitos e que muitas vezes foram vencidas pelas espertezas das práticas políticas costumeiras. Aprendi muito. Cresci.
Os mandatos de deputado, o convívio com políticos experientes, a participação no Governo Roseana com a implantação das Gerências Regionais, enfim, a passagem pela vida pública só me fez crescer enquanto gente.
Os trabalhos de reestruturação da Aliança Francesa, a criação da Casa França Maranhão culminando com a restauração do Casarão da Rua do Giz, me credenciaram ao honroso convite para ser o Cônsul Honorário da França em São Luís.
O amor pelas artes (incentivado na pequena infância pelo saudoso Frei José Precioza), o gosto pela leitura e pela escrita (graças à dedicação de Dona Cici, nossa professora de Português) acabaram por moldar a minha formação e mais tarde me conduzir à Academia Pinheirense de Letras e ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão.
A dedicação às causas da gente da minha terra me permitiu também receber a Medalha do Mérito Inácio Pinheiro, a Ordem dos Timbiras no grau de Comendador, a Medalha do Mérito legislativo Manoel Beckman e a Medalha do Mérito legislativo Simão Estácio de Sá considerada a maior honraria do Legislativo ludovicense. Todas elas, carrego não só no peito, mas, sempre em meu coração.
Sei que já caminhei bastante, mas sempre olho para frente e mais trilhas ainda hei de percorrer.
Finalizo, estimado vereador Ivaldo, agradecendo aos amigos que, sempre ao meu lado, me incentivam a continuar caminhando, sempre com os olhos focados no futuro. E concluo relembrando as palavras do poeta António Machado:
“Caminhante, são teus rastos o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho, faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho, e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais se há de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho, somente sulcos no mar”.

                                                                                    
José Jorge Leite Soares
Ex-Deputado Estadual,
Membro da Academia Pinheirense de Letras,
 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e
Cônsul Honorário da França em São Luís.

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