segunda-feira, 16 de novembro de 2015

“Hoje o Maranhão mudou, e mudou com a ajuda de minhas mãos”, diz Sarney

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O ex-presidente da República, José Sarney, concedeu uma entrevista exclusiva à revista Maranhão Hoje, publicada na edição de outubro, que está nas bancas. O mais ilustre maranhense na política brasileira aproveitou para recordar os momentos mais marcantes de sua campanha para governador do Maranhão em 1965. Ele mostra que era o Maranhão de cinquenta anos atrás e as principais realizações do seu governo. O peemedebista fala que se o estado mudou e essa mudança foi promovida por ele, afinal não existia asfalto, energia elétrica, água encanada para população.
Sarney foi eleito dia 03 de outubro de 1965, pondo fim a trinta anos do Vitorinismo, como era conhecido o movimento liderado pelo ex-senador Victorino Freire, seu mais ferrenho adversário. A edição de outubro da Maranhão Hoje traz um excelente material sobre esse pedaço da história no estado, a reportagem completa você pode conferir na edição impressa disponível em vários pontos de venda pelo Maranhão.
Confira a entrevista na íntegra:
Maranhão Hoje – Naqueles tempos de comunicação precária, de estrutura de transporte limitada, como foi possível chegar com sua mensagem de candidato a governador a todas as regiões do Estado?
José Sarney – As três campanhas a deputado federal possibilitaram-me divulgar, no Maranhão inteiro, uma nova mensagem de mudança da situação de atraso do Estado. Dois anos antes das eleições para governador, eu já era apontado como candidato natural, reconhecido como o político que desejava mudar o Maranhão. Percorri quase todos os municípios do Estado de jipe, teco-teco, canoa, cavalo e até a pé, como o fiz indo de Axixá até Morros.
Que passagem desta campanha lhe traz mais recordações (boa ou ruim)?
Como os tempos mudaram, e o Estado passou a ser outro, a recordação que trago daquela campanha foi, como se dizia, a de ter sido a mais empolgante campanha política que o Maranhão já tinha vivido até então. Eu era recebido com uma verdadeira consagração em todos os lugares que visitava.
O senhor destacaria algum caso pitoresco, impossível de esquecer, que tenha ocorrido durante a disputa de 1965?
Lembro-me de uma saudação de Alcides Sarmento em um comício: “Quero saudar a ilustre comandita [comitiva] que hoje nos visita” e, na sequência da saudação, referindo-se ao Coronel Pedro Bogéa: “o maior reprodutor [produtor] do Mearim”. Depois, no dia da eleição, colocaram no muro do cemitério a seguinte mensagem, assinada pelos mortos: “Agradecemos por não ter de participar desta eleição”. Havia muita fraude eleitoral, com votos de fantasmas, e a revisão eleitoral acabou com essa prática. Daí o agradecimento dos mortos. Num comício de que participei, em Bacabal, iluminado como se usava, naquele tempo, por petromax, que chiava durante todo o tempo em que ficava aceso, um orador começou a elogiar-me e, depois, não encontrando outra maneira de intensificar seus elogios, disse o seguinte: “O Dr. Sarney é como os áudios sonoros desse petromax.” Também não posso esquecer o que podia ter resultado numa grande tragédia: íamos para o último comício em Bacabal, e o meu carro ficou atrás de um caminhão, que, repentinamente, parou na estrada, com as luzes apagadas. Nós iríamos colidir com sua traseira. Só não aconteceu o pior porque gritei ao chofer que desviasse do caminho. Aí ele viu o caminhão, que estava parado adiante. Bruscamente, desviou o carro, roçando a lateral do caminhão, e fomos parar no mato da beira da estrada, que era de terra e bem estreita. Até hoje lembro esse fato e sei que foi a mão de Deus que evitou que a minha carreira política se encerrasse naquela noite.
Quantos eram os coordenadores de sua campanha e quais o senhor considera que tiveram papel mais decisivo no sucesso da eleição?
Não tínhamos coordenadores escolhidos; havia movimentação de grupos que, espontaneamente, se reuniam para fazer a campanha em todo o Estado. Mas se tivesse que escolher um como o mais importante, eu destacaria o Amaral Eletrônico, que, na organização dos comícios, era encarregado dos alto-falantes que, naquele tempo, sempre apresentavam grandes problemas.
Alguns nomes de destaque na política maranhense na atualidade não aderiram à sua campanha, mas se tornaram seus aliados depois da posse. Alguns até passaram a ter posição de destaque no governo. Como o senhor conseguiu se aproximar dessas lideranças?
O meu objetivo de governo era acabar com a política de ódio entre os adversários; muitas vezes, havia até violência. Minha mensagem era de união, de paz, de reunificação do Maranhão. Foi muito fácil, assim, atrair todas as lideranças: as que tínhamos como nossas e as que me tinham combatido. Isso ocorreu depois que eles viram o trabalho que eu estava fazendo no Estado.
Há uma passagem interessante logo após sua posse que foi a inclusão do adversário Victorino Freire na comitiva do presidente Castelo Branco numa visita a São Luís. Como foi este reencontro de vocês?
Eu nunca guardei ressentimento em minha vida. Nosso encontro foi cordial e com absoluto respeito.
Qual era o quadro social e econômico do Maranhão naquela época em que o senhor chegou ao governo? Qual sua posição no ranking do PIB nacional da época?
A situação do Maranhão era de extrema pobreza: sem estradas, sem energia elétrica, sem escolas, sem hospitais, ou seja, de absoluta miséria. Basta citar três exemplos: o Estado não tinha um quilômetro de estrada asfaltada, a energia disponível era proveniente de quatro motores movidos a lenha de mangue, e a distribuição de água era feita apenas no núcleo da cidade velha de São Luís. Tínhamos o último lugar entre os PIBs estaduais brasileiros. Em meu governo, crescemos 200%, triplicamos nosso PIB.
Muitos dizem que seu governo foi beneficiado pelas obras federais: BRs, porto, energia, universidade etc. O senhor concorda com esta análise?
Todas as obras foram fruto de meu trabalho junto ao Governo Federal — estrada, porto, energia elétrica, universidade. Elas não vinham por acaso. Foram conseguidas por mim, pela expressão que eu já tinha naquele tempo, depois de ter sido, na Câmara dos Deputados, Vice-Líder da Banda de Música da UDN e Vice-Presidente da UDN nacional, enfrentando muita resistência e tendo muito trabalho.
A sua campanha, de alguma forma, recebeu manifestação declarada de apoio do governo federal, à época já sob o regime militar?
Não. O regime militar não participou da eleição no Maranhão. Ao contrário, eu era acusado, perante os militares, de esquerdista e de candidato do partido comunista.
Por que o regime militar tentou cassar o seu mandato? Antônio Dino, seu vice, teve papel decisivo para que este plano dos militares fosse abortado?
Esse episódio ocorreu depois da edição do AI-5, mas nunca houve uma ação concreta nesse sentido. O que ocorreu e que determinou esse receio foi o fato de eu não ter concordado com a edição do AI-5.
Como vê o Maranhão, hoje, comparado ao que o senhor encontrou ao tomar posse em 1966?
Hoje o Maranhão mudou, e mudou com a ajuda de minhas mãos. O mais importante foi a transformação das mentalidades: em vez de discurso da política do delegado e do coletor, passou-se ao discurso político do desenvolvimento.
O senhor detesta quando ouve alguém falar mal do Maranhão, principalmente quando é maranhense, não é verdade?
A campanha de falar mal do Maranhão foi feita pelos maus maranhenses que, para combater-me, passaram a denegrir a imagem do Estado. O Maranhão, hoje, é o 16º Estado do Brasil, à frente de Mato Grosso do Sul! Portanto, é um Estado com números significativos! É o 2º porto do Brasil!
Curioso que muitos que falavam mal do Maranhão hoje estão no poder e querem mostrar agora para o Brasil e o Mundo o potencial do Estado, ou seja, escondem o que sempre diziam ser verdade. Falaram demais e de forma errada?
Os que falavam mal do Maranhão são os mesmos que faziam campanha nacional contra mim e o Maranhão. Agora têm de morder a língua.
Como o senhor pretende ser lembrado pelos maranhenses?

Como o reformador do Estado do Maranhão e renovador da sua tradição: a da política, sendo o primeiro Presidente da República do Estado; e a da intelectualidade, sendo membro da Academia Brasileira de Letras, com 165 livros publicados.

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