No inicio da década de 1920, a cidade de São Paulo experimentava uma transformação urbanística sem igual. Sob forte influência da colônia européia, notadamente italiana, a cidade se transformava tendo como referência as grandes cidades europeias. O viaduto do Chá e o de Santa Efigênia enchiam de orgulho os paulistas com suas impressionantes estruturas metálicas. O Teatro Municipal se assemelhava ao L`Opera de Paris e a Estação da Luz era uma cópia da antiga Gare de Charing Cross de Londres.
A Companhia City de
São Paulo em parceria com Companhia Light tiveram grande influência na
transformação e modernização da cidade. Iniciava-se o processo de
industrialização e, com uma população de cerca de 700 mil pessoas, a cidade era
o exemplo de dinamismo e efervescência cultural do país.
O ano era 1922. Eclodiu
em São Paulo uma série de manifestações artísticas e culturais. Movimento esse que
veio a ser conhecido como a semana de Arte Moderna e que repercutiu em todoo
Brasil.
À essa mesma época,
Pinheiro era apenas um pequeno vilarejo encravado nas margens do rio Pericumã.
Longe de tudo e longe de todos. Dois mundos completamente diferentes. No
entanto, aqui nos campos alagados da Baixada maranhense, começava a se desenhar
algo inovador. Os portugueses Albino Paiva e os irmãos Gonçalves ja haviam se
estabelecido na cidade, trazendo sua contribuição como empreendedores que
atravessaram o Atlântico em busca de oportunidades. Elisabetho Carvalho e
Josias de Abreu fundavam o Jornal Cidade de Pinheiro e os seletos membros do Clube
do Rádio (trazido de Portugal pelo Albino Paiva) repercutiam as notícias
divulgadas pela BBC de Londres e Voz da América. A Loja Maçônica Renascimento
foi fundada no início de 1920 por Manoel Serra Carneiro e o Cassino Pinheirense
e o Teatro Guarany reuniam as famílias mais esclarecidas do lugarejo.
Nessa mesma década,
a Compagnie Française d`Entreprises Financières Industrielles et Comerciales
decidiu implantar na Chapada de Pinheiro sua primeira indústria de
beneficiamento de babaçu.
− “Nenhuma cidade
se desenvolve sem energia” dizia Albino Paiva, que àquela época havia
instalado a primeira indústria de beneficiamento de arroz e algodão na cidade e
ja fazia uso da luz elétrica em sua residência.
Bem sucedido e
influente liderança local, ele nunca se furtou a colaborar com as instituições
que poderiam desenvolver a cidade. Assim foi que em 1921 abriu sua “burra” para
socorrer, com apoio financeiro, a prefeitura municipal de Pinheiro. Com a
devida aprovação da Câmara dos vereadores, emprestou a importância de quarenta e cinco contos de
reis para a aquisição do primeiro grupo gerador
de eletricidade para a Usina elétrica de Pinheiro.
Era pleno inverno,
tempo das chuvas e das águas. O povo todo espremeu-se no Cais da Organização
Comercial Albino Paiva Ltda para receber, sob um foguetório jamais visto,
aquele equipamento que viria iluminar toda a cidade.
Sobre os ombros dos
homens mais fortes, aquele “motor de luz” que havia sido importado da Alemanha,
depois de ter cruzado o Atlântico e contornado a Pedra de Itacolomy, faria sua
derradeira viagem rumo à sua nova morada. O prédio da Usina. Alí permaneceu por
mais de quatro décadas até a chegada da energia de Boa Esperança.
Um século depois, o
prédio que abrigou a fábrica de luz, acolhe atualmente a Academia Pinheirense de
Letras Artes e Ciências de Pinheiro.
José Jorge Leite Soares
Ex-Deputado Estadual,
Membro da Academia Pinheirense de
Letras e
do Instituto Histórico e Geográfico
do Maranhão
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