terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Motor de Luz


No inicio da década de 1920, a cidade de São Paulo experimentava uma transformação urbanística sem igual. Sob forte influência da colônia européia, notadamente italiana, a cidade se transformava tendo como referência as grandes cidades europeias. O viaduto do Chá e o de Santa Efigênia enchiam de orgulho os paulistas com suas impressionantes estruturas metálicas. O Teatro Municipal se assemelhava ao L`Opera de Paris e a Estação da Luz era uma cópia da antiga Gare de Charing Cross de Londres.

A Companhia City de São Paulo em parceria com Companhia Light tiveram grande influência na transformação e modernização da cidade. Iniciava-se o processo de industrialização e, com uma população de cerca de 700 mil pessoas, a cidade era o exemplo de dinamismo e efervescência cultural do país.

O ano era 1922. Eclodiu em São Paulo uma série de manifestações artísticas e culturais. Movimento esse que veio a ser conhecido como a semana de Arte Moderna e que repercutiu em todoo Brasil.

À essa mesma época, Pinheiro era apenas um pequeno vilarejo encravado nas margens do rio Pericumã. Longe de tudo e longe de todos. Dois mundos completamente diferentes. No entanto, aqui nos campos alagados da Baixada maranhense, começava a se desenhar algo inovador. Os portugueses Albino Paiva e os irmãos Gonçalves ja haviam se estabelecido na cidade, trazendo sua contribuição como empreendedores que atravessaram o Atlântico em busca de oportunidades. Elisabetho Carvalho e Josias de Abreu fundavam o Jornal Cidade de Pinheiro e os seletos membros do Clube do Rádio (trazido de Portugal pelo Albino Paiva) repercutiam as notícias divulgadas pela BBC de Londres e Voz da América. A Loja Maçônica Renascimento foi fundada no início de 1920 por Manoel Serra Carneiro e o Cassino Pinheirense e o Teatro Guarany reuniam as famílias mais esclarecidas do lugarejo.

Nessa mesma década, a Compagnie Française d`Entreprises Financières Industrielles et Comerciales decidiu implantar na Chapada de Pinheiro sua primeira indústria de beneficiamento de babaçu.

“Nenhuma cidade se desenvolve sem energia” dizia Albino Paiva, que àquela época havia instalado a primeira indústria de beneficiamento de arroz e algodão na cidade e ja fazia uso da luz elétrica em sua residência.

Bem sucedido e influente liderança local, ele nunca se furtou a colaborar com as instituições que poderiam desenvolver a cidade. Assim foi que em 1921 abriu sua “burra” para socorrer, com apoio financeiro, a prefeitura municipal de Pinheiro. Com a devida aprovação da Câmara dos vereadores, emprestou  a importância de quarenta e cinco contos de reis para a aquisição do primeiro grupo  gerador de eletricidade para a Usina elétrica de Pinheiro.

Era pleno inverno, tempo das chuvas e das águas. O povo todo espremeu-se no Cais da Organização Comercial Albino Paiva Ltda para receber, sob um foguetório jamais visto, aquele equipamento que viria iluminar toda a cidade.

Sobre os ombros dos homens mais fortes, aquele “motor de luz” que havia sido importado da Alemanha, depois de ter cruzado o Atlântico e contornado a Pedra de Itacolomy, faria sua derradeira viagem rumo à sua nova morada. O prédio da Usina. Alí permaneceu por mais de quatro décadas até a chegada da energia de Boa Esperança.

Um século depois, o prédio que abrigou a fábrica de luz, acolhe atualmente a Academia Pinheirense de Letras Artes e Ciências de Pinheiro.

 

 

José Jorge Leite Soares

Ex-Deputado Estadual,

Membro da Academia Pinheirense de Letras e

do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

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