Pinheiro, 28 de maio de 2.020.
Querida amiga Marita.
Saúde e paz!
Sempre me considerei uma mulher caseira, não gosto muito de saí por aí batendo pernas pelas ruas, mas quando me ausento de Pinheiro por longo tempo, ao retornar, visito pessoas queridas e locais que me trazem boas recordações. Entretanto desta vez, por conta da quarentena do covid 19, estou aqui desde fevereiro sem sair de casa.
Ontem decidi dar uma voltinha pela cidade em carro fechado, usando máscara e álcool gel (como manda o protocolo) e surpreendeu-me o fato de ver no local onde existiu a tua casa um gigantesco posto de gasolina. Rapidamente ele surgiu do nada pois a bela casa já havia sido demolida, mas havia um tapume que ocultava a novidade.
Ao virar a esquina com a Avenida Paulo Ramos, passei pela minha antiga casa, também demolida,e por coincidência também virou um posto de gasolina. A caótica situação e semelhança, mexeu com os meus sentimentos.
O que fizeram com as nossas antigas casas? Por que viraram do avesso o nosso passado, exibindo hoje manchas de gasolina, diesel e etanol em uma superfície que outrora foi colorida e luminosa?
A tua casa Marita, que parecia um laço de fita hoje não passa de um espaço visto e árido de onde nasceram bombas, tipo torres, que jogam lágrimas poluídas que alimentam motores que enchendo a cidade de monóxido de carbono.
Cadê a construção senhorial dos Gonçalves embelezando á Avenida José Sarney? Cadê os módulos de concreto que contornavam as janelas altas e rotuladas por onde Titita pequenininha, olhava e apontava para os picolés de Palos Cato?
O velho sobrado do Sr. Paulo Castro também cambaleia no tempo! Dali não mais se ouvem as tacadas das bolas de bilhar; as gargalhadas dos jovens frequentadores do bar também calaram; os gostosos picolés derreteram na lembrança. Naquele trecho da avenida José Sarney, só existem lembranças.! lembranças! lembranças! a cadeira de Inês Loureiro na porta da Farmácia da Paz, virou monturo, as casas de Dona Sophia, Dona Nhazinha, Dona Nila se transformaram ou desapareceram com seus antigos proprietários Aquele trecho da cidade hoje é um cemitério de lembranças .
Da minha antiga casa também nada restou como aconteceu com a tua por ela passou um rolo compressor do presente arrasando-a , soterrando o viver das gerações dos meus antepassados e o que mais entristece é que tanto a minha como a tua, que abrigavam o começo de nossas vidas deram guarida aos nossos sonhos de amor, ao chorinho dos nossos bebês, agora guardam no seu subsolo apenas tanques de derivados do ouro negro.
Não restou nada de nós!
Foi esse o futuro que sonhamos para as nossas antigas casas?
É certo que não tínhamos a audácia de vê-las transformadas em museus guardando as nossas relíquias, mas sei que tanto tu com eu gostaríamos de encontrar em algum pedacinho daqueles espaços, algo que falasse de nós ou do tempo em que éramos felizes e não sabíamos.
Passei ainda pela casa da nossa saudosa amiga Athayde que se foi, junto com a residência que foi sua e como as nossas sofreu transformações, mas ,pelo menos dali a memória dela irradia Luz pela cidade, enquanto que das nossas antigas casas jorram líquidos poluentes em forma de saudade, volatiza-se no tempo, liquefazem-se , descendo pelos nossos rostos como lágrimas.
Amiga estamos chegando ao término de nossa caminhada. Se, entretanto, escaparmosda carrocinha que cata velho, a idade nos pegará com certeza, entretanto somos pessoas de fé e a nossa confiança em Deus nos garante um lugar na casa do Pai Eterno. Lá eternidade não existe passado presente e nem futuro. Quem sabe a perenidade do tempo vai nos presentear com a visão de nossas antigas casas?
Com cloroquina, ou sem cloroquina, vamos nos reunir logo que passe esse pandemônio porque o Clube das Despreocupadas não perecerá.
Beijos,
Gracinha
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