José Jorge Leite Soares
Quem escreve crônicas,
acaba desenvolvendo uma habilidade em observar o cotidiano e dele extrair
assunto para o próximo texto.
Neste final de semana
estava saboreando o livro Trinta e Poucos,
crônicas do Antonio Prata, ao me deparar com "Mexerequeira em flor".
De súbito, larguei o livro e peguei o meu iPad. Já tenho assunto para a minha
nova crônica, pensei cá com meus botões.
Anos atrás, havia
comprado em um antiquário uma preciosidade. Uma antiga porta de madeira e
aguardava a oportunidade de aproveitá-la em algum lugar. Com saída de nossos
filhos e vivenciando a síndrome do ninho vazio, decidimos construir uma casa
para abrigar a nós e à nossa nova porta.
Contratado o projeto e
concluída a construção, eu havia esquecido que o excesso de claridade, além do
brilho das manhãs e do viço das plantas, traz consigo, também, uma onda de
calor sem igual! Nossa varanda, onde tomávamos o café da manhã e nos reuníamos
em torno da mesa, não nos concedia a sensação de aconchego e conforto que tanto
desejávamos.
Dizem que ninguém
aguenta ladainha de mulher... E, antes
que a minha mandasse construir um aquário de vidro em torno da varanda e
colocar um aparelho de ar condicionado, antecipei-me e seguindo o conselho de
um amigo, fiz construir um pergolado de madeira para que pudesse quebrar o
mormaço que se abatia a cada dia sobre nossas cabeças.
Decidimos sair em busca
de duas belas mudas de maracujá que foram plantadas em covas muito bem
adubadas. Acompanhamos, com registro fotográfico o crescimento diário das duas
mudas. Cheguei até a fazer um um making
of da disputa entre elas para saber qual delas seria a vencedora. Impressionante como crescem rápido! Cerca e 5
a 6 cm por dia.
Dois meses depois, já
estavam quase tocando a parte superior do caramanchão. As chuvas chegaram, os
ramos se espalharam e, de repente, a ramagem já projetava uma sombra e uma enorme
sensação de conforto em nosso espaço.
Numa bela manhã
ensolarada, a presença das abelhas mamangavas nos chamava a atenção. Prenuncio
de néctar e do pólen! A natureza nos dava o alerta que as lindas flores do pé
de maracujá estavam por vir.
Eu cuidava da poda,
retirando folhas murchas e pequenos galhos inconvenientes que teimavam em
buscar um percurso diferente daquele por nós almejado.
A cada dia que passava,
a nossa cobertura vegetal se apresentava mais fechada e mais bonita. Uma
proliferarão de tonalidades verdes muito mais farta que todas nuances das
bisnagas de tintas guardadas em meu cavalete de pintura. Mas, maracujá que é bom,
necas!
Havia convidado uns
amigos para um jantar em nossa casa e, nesse final de semana, ao fazer o meu
programa predileto da feira, deparei-me com uns lindos maracujás. Enormes,
amarelos, brilhantes. Não hesitei, comprei uma dúzia deles.
À noite, ao entrar na
cozinha pouco antes da chegada dos amigos, inclusive daquele que havia me
sugerido a ideia do pergolado, deparei-me com aquelas lindas frutas decorando
um prato em cima da bancada.
Blin, blin! Ocorreu-me uma
ideia! Corri em busca de um fio de nylon transparente e amarrei um por um,
aquela dúzia de maracujás, dependurando-os todos sob os galhos tenros do meu pé
de maracujá.
Pronto! A cena estava
completa. Os amigos foram chegando quando, de repente, ouço um chamado:
− Jorge! Vem ver!!!! Nosso pé
de maracujá está todo carregado. Que lindo!
A mim, só me coube
concordar.
Tive que acordar bem cedo
no dia seguinte. "Colhi todos eles" e tomamos o melhor suco de
maracujá da nossa vida.
Beth só vai ficar
sabendo disso se vocês contarem para ela.
Mas, segundo minha
amiga Raquel, se eu tivesse dependurado uma dúzia de goiabas, ela iria me
chamar do mesmo jeito e dizer:
− Jorge! Vem ver!!!! Nosso
pé de maracujá está cheio de goiabas!
Isso é que se chama credibilidade!
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