sábado, 20 de dezembro de 2014

Sarney faz discurso de “despedida” no Senado

 Após 60 anos de vida política, o senador José Sarney fez seu último discurso no Senado, nesta quinta-feira (18). O ex-presidente do Brasil e do Senado Federal vai se aposentar e deixa um importante legado político e intelectual.

Em seu discurso ele afirmou que é muito supersticioso e avesso as despedidas, e não gosta de dizer adeus, por isso, só queria expressar sua gratidão. “Quero deixar nos anais do Senado a natural emoção que tenho neste momento, que me leva a dizer que não estou fazendo um discurso de despedidas, mas a motivação de estar aqui é apenas uma palavra, a de gratidão”, disse o senador.

.José Sarney externou seu agradecimento ao povo do Maranhão, que segundo ele é uma terra cheia de riquezas. “Gratidão ao povo do Maranhão, minha terra, minha paixão, onde meus olhos se abriram para o mundo”, declarou.

Sarney apontou que o Estado é o 2º complexo portuário do Brasil, responsável por 14% de toda a carga que o país tem de exportação. Outro ponto, é que o Maranhão cresceu 10,3%, ocupando o 13º lugar na criação de empregos e é a grande atração de investimentos, com a 2º maior relação dívida/receita do país.

O senador destacou, ainda, que o Estado tem absoluto controle das contas públicas e de responsabilidade fiscal, com as despesas com Saúde tendo crescido 138%, diante dos 39% que cresceu o Brasil. Com a Educação tendo crescido 75%, contra 22% do Brasil e com a Segurança Pública tendo crescido 53%, contra 16% do Brasil.

“Esses números chocam, porque nossa mídia escolhe sempre o Maranhão como um Estado que é um exemplo para o Brasil de crescimento menor, quando, na verdade, ele está numa vanguarda bastante avançada”, afirmou Sarney.

O ex-presidente do Brasil agradeceu, ainda, ao povo brasileiro, que lhe deu a oportunidade de ser presidente da república. Ele declarou que contribuiu para melhorar a vida das pessoas, fazendo a transição para democracia com os tempos de maior liberdade, plenos direitos civis, cidadania e deixando uma sociedade democrática. “Só Deus é testemunha do que isso me custou e das cicatrizes que até hoje sangram”, pontuou.

Agradeceu, também, ao povo do Amapá, que lhe deu três mandatos de senador. “Gente boa, generosa, trabalhadora, que vai cumprir o destino de construir, isso não tenho dúvida, um dos maiores Estados da Amazônia”, declarou.

Sarney afirmou que encontrou o Amapá com a economia dependendo do cheque dos funcionários públicos e com a energia racionada, e hoje, ele é uma zona de livre comércio consolidada, e com grande dinamismomercantil. “Criei a zona franca verde de aproveitamento de produtos regionais, três hidrelétricas, uma já em funcionamento – a de Santo Antônio – e duas em construção – a de Caldeirão e Ferreira Gomes”, citou.

O ex-presidente falou de várias obras que realizou como senador e presidente da república e agradeceu a Deus pela vida. “Gratidão a Deus, pela graça da longa vida que me deu por meio de minha mãe e de meu pai e as estrelas com que ele encheu as minhas mãos”. Ele agradeceu, ainda, aos colegas parlamentares, pela consideração com que sempre o tratam e pelo apoio que lhe deram. “A política tem essas virtudes, a convivência e convergência de ideias. O nosso convívio aqui na casa cria uma certa intimidade que nos ligam no dia a dia, e nos fazem amigos. Sempre cultivei o diálogo e a paz, é do meu temperamento. Deus me poupou do sentimento do ódio e do ressentimento, da inveja e do desejo de vingança, nunca tive inimigos. E, mesmo os adversários, tive sempre um convívio em que os tratei com cordialidade e amizade”, afirmou.

Sarney deixou, ainda, sua opinião sobre temas como Maioridade Penal, Plano Nacional de Educação, uso de drogas, entre outros temas de relevância no Brasil. Por fim, José Sarney defendeu a crença na política. “Não podemos ver a política como uma guerra. Acabando as eleições, todos devem se unir pelo bem comum. É preciso ter fé na política, ter utopias”, defendeu.

Finalizando o seu discurso, ele disse que iria se despedir buscando nos folguedos populares do Bumba Meu Boi do Maranhão, a sua toada de despedida.
“No raiar desse dia, o céu é o reinado das estrelas onde a lua tem sua morada. / E o orvalho é a lágrima da noite que chora pelas madrugadas. / Adeus, eu já vou me bora, é chegada a hora de eu me despedir. / Assim como o dia se despede da noite, eu me despeço de ti. / Deixo no senado uma palavra, gratidão. / Saio feliz,sem nenhum ressentimento. / Ai meu Senado, tenho saudades do futuro, muito obrigado”, declamou.

Após o discurso, Sarney foi ovacionado pelos presentes, que depois discursaram sobre a sua importância na história da política no Brasil.

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