Tenho acompanhado o sofrimento da cidade de São Luís e de outras cidades do interior do Maranhão com as fortes chuvas que têm caído. Ultimamente, com a mudança climática do mundo, temos tido alternâncias de períodos de estiagem, como aconteceu nos últimos cinco anos, com invernos fracos, e enchentes como as que estão ocorrendo no Brasil inteiro.
Quando vejo este ano com esta chuvarada toda, minha reação tem sido a de dizer que este era o “inverno tradicional” de nossa terra, aquele que via na minha infância, mocidade, maturidade.
Acontece que não foi somente o inverno que mudou. Mudou a cidade, mudaram os costumes, a mobilidade urbana e o sistema de saneamento esgotaram-se e envelheceram. Os portugueses foram excelentes construtores, e fizeram um projeto de drenagem para uma cidade que o comportou bem até 100.000 habitantes. Os colossais subterrâneos da Praia Grande, escondidos mas monumentais, nada deviam aos das grandes cidades europeias. E as “bocas de lobo” que existiam nas ladeiras para escoamento rápido das águas de abril — chamadas de “abril, chuvas mil / maio, trovão e raio” — funcionavam admiravelmente. Meia hora depois de qualquer tempestade a cidade estava seca.
Hoje, temos uma cidade de um milhão de habitantes. Expandiu-se, surgiram novos bairros, mas não tem um Plano Diretor e houve esse brutal crescimento desordenado. Calculo o sofrimento das pessoas que residem nos bairros convivendo com a sujeira, a falta d’água, a lama, os alagamentos e a falta de esgoto.
Mas, atrás de tudo isso há um problema mais grave, que daqui para a frente vai tornar quase inviável a melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes: a falta de pensar sobre a cidade e planejar o que se deve fazer. Criou-se uma mentalidade que a cidade de São Luís, Patrimônio da Humanidade, Ilha do Amor, Pérola do Atlântico (ouvi de um cantador que fazia ponto no hotel do saudoso Moacyr Neves), era para ser administrada pelo Governo do Estado e não precisava de Prefeito.
Calculem se eu não tivesse feito Boa Esperança, que primeiro trouxe luz para S. Luís e desativado a Ullen, então já Cemar; a Ponte de São Francisco; toda nova fiação da cidade; as Caixas d’Água; as Avenidas Kennedy e dos Franceses; a Barragem do Bacanga; a nova Estação do Batatã; o asfaltamento de toda a cidade; a Ponte do Caratatiua; as Avenidas do Maranhão Novo; o Hospital Sarah Kubitschek. E se Castelo não tivesse feito o Castelão, a Adutora do Itapecuru; se Cafeteira não tivesse feito a duplicação das Avenidas de São Francisco; se Lobão não tivesse feito a Avenida Litorânea e as escolas de Ensino Médio; e se Roseana não tivesse feito tantos viadutos e avenidas, os Vivas e restaurados as festas de S. João e o Carnaval. O que seria de S. Luís?
A verdade é que há 30 anos São Luís não tem Prefeito. Não estou censurando ninguém, mas apenas constatando um fato. Qual a grande obra que foi feita pela Prefeitura nestes anos todos? E todas estas que citei são da competência da Prefeitura.
Ivan Sarney escreve há décadas o mantra “vamos amar São Luís”, mas não basta amar, é preciso PENSAR SÃO LUÍS, fazer um Plano Diretor e convocar a inteligência do Estado para essa tarefa.
Por José Sarney
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