CONTINUA
repercutindo – até mais do que devido –, a tertúlia do ex-presidente Sarney com
o governador Flávio Dino.
Após
alardear o “feito” em suas redes sociais, o governador, talvez, diante da
“baixa audiência” do fato e das cobranças por coerência, já no final de semana
que se seguiu tratou de dizer que não ocorreu qualquer acordo relacionado à
política local.
Disse que só
tratou da política nacional, do “risco” que corre a democracia brasileira e, no
mais, trataram de assuntos relacionados à cultura, autores maranhenses e outras
coisas triviais.
Benedito
Buzar, respeitado intelectual do nosso estado e que priva da amizade do
ex-presidente, em sua coluna semanal em “O Estado Maranhão”, datada de 07 de
julho, disse ter confirmado, em linhas gerais, o teor da conversa entre o
governador e o ex-presidente, sendo que este último ao iniciar a conversa teria
deixado claro à visita que não trataria de qualquer assunto relacionado à
política local, alegando para isso a idade avançada e o fato de ter passado tal
“missão” aos filhos Roseana e José Sarney Filho e ao neto Adriano.
Da coluna de
Buzar extrai-se, também, a informação que a conversa entre os líderes ocorreu
em ambiente reservado, sem a presença de mais ninguém: nem do filho Zequinha
Sarney, que o ajudou na recepção da visita, nem do deputado Orlando Silva, que
acompanhava o governador.
O que, para
a patuleia, será sempre a palavra de um contra o outro (em caso de
discordância) ou a palavra de ambos no mesmo sentido (o que revelaria a
comunhão de vontades).
Se assim o
foi, sua excelência acabou por reeditar um clássico do cinema mundial: “Uma
Linda Mulher”, no qual a atriz Júlia Roberts interpretou uma garota de programa
que, a despeito de transar com o clientes, não os beijava.
Ou, também
dos anos noventa, reeditou a famosa frase de Bill Clinton que indagado se já
fumara maconha saiu-se com essa: — fumei mais não traguei.
Quem somos
nós para questionar a palavra de sua excelência ou a informação prestada por
Buzar, após ouvir Sarney?
Quem duvidou
mesmo foi o neto do morubixaba, deputado Adriano, que, em discurso na
assembleia legislativa, disse que teria ocorrido, sim, um “acordo” entre os
dois políticos.
Mas se sua
excelência e o escritor e político Sarney dizem que trataram de assuntos
literários e não políticos. Pela verve da literatura, se algum “acordo” ocorreu
naquela tertúlia solitária entre ambos, na tarde brasiliense, talvez o tenha
sido nos moldes do dissera o autor irlandês Oscar Wilder (1854 - 1900), que do
cárcere para onde foi mandado, escreveu sobre um “certo amor que não ousa dizer
o nome”.
Festejado
por muitos dos aliados do governador, porém, causando constrangimentos em
alguns – chamados a dizerem sobre os “cinquenta anos de atraso” –, o suposto
“acordo” tem esse quê de vergonha, de “amor que não ousa dizer o nome”. Mas,
registre-se, menos por pudor e mais pelo pragmatismo do “perde-ganha” político.
O governador
do Maranhão, que bem recentemente, deixou em aberto três opções para o seu
futuro político em 2022, tem consciência da fragilidade do seu projeto político
presidencial.
O estado que
dirige não é modelo para nada, faz uma administração acanhada – não apenas pela
falta de recursos, mas pela falta de aptidão administrativa –, com piora de
todos os índices econômicos e sociais, sem uma obra de infraestrutura para
chamar de sua, sem nada para mostrar ao Brasil além de dizer que se opõe ao governo
Bolsonaro e ao ministro Sérgio Moro – sua segunda obsessão.
Não bastasse
tudo isso, sabe da imensa dificuldade de se “vender” como um candidato de
“esquerda” filiado a um partido “comunista”. Tudo entre aspas mesmo.
Assim, nada
mais óbvio para o governador que “sonha” em ser o novo Sarney, copiar o Sarney
com o próprio Sarney.
Ficou
confuso? Eu tentarei explicar.
Quando
Sarney tentou fazer de Roseana a presidente da República para suceder FHC uma
das estratégias foi tentar unir o estado em torno do projeto acenando para a
oposição: Jackson Lago seria apoiado para prefeito em 2000, na chapa com Tadeu
Palácio, e depois seria o candidato a governador da “união” em 2002.
Este era o
plano de Sarney – se combinado ou não com Jackson Lago, não sei –, que não deu
certo por conta da chamada “Operação Lunus”, que levou ao naufrágio os planos
presidenciais de Sarney, através da filha, e o conduziu aos braços do petismo,
a ponto de virar o “melhor” amigo de Lula, como este mesmo fez questão de dizer
mais de uma vez.
O que
custaria a Dino repetir a estratégia, agora com o sinal trocado? Uma
candidatura de “esquerda” e “comunista” precisaria de um “tempero” mais à
direita do espectro político.
Quem melhor
representaria isso que José Sarney, o último dos coronéis do Brasil?
Se trataram
de algum acordo político ou não, por enquanto, não saberemos. Mas a intenção do
senhor Dino, parece-me bastante clara: na hora dos candidatos “esquerdistas”
mostrarem suas cartas para se viabilizarem, ele apresentaria o Sarney como seu
principal trunfo, seu ás na manga, o melhor amigo do Lula.
E ainda
faria isso “pacificando” toda a província do Maranhão. Todos unidos em torno de
sua excelência rumo ao Planalto.
Devolveriam
o estado aos Sarney depois dizer que eles foram a maior desgraça do estado, do
atraso, e de todos os males? Não tenham dúvidas.
Não
representaria qualquer dificuldade para ele ou para o seu partido.
Lembro que
uma vez, lá pelos idos de antigamente
convidado para uma reunião da juventude do Partido dos Trabalhadores -
PT. Eu era do movimento estudantil, envolvido com a criação de grêmios, etc.
Naquela reunião, ocorrida no sitio Pirapora, sua excelência, já na
universidade, era um dos palestrantes/organizador e, já naquele momento, com
todas as críticas que se fazia a Sarney por sua ligação com a ditadura e tudo
mais, ele defendia que para chegar/conquistar o poder não tinha nada demais em
fazer uma aliança com o então presidente. Aliás, para nos impressionar – até
porque pela idade dele (14/15 anos) não sabemos ser possível –, disse que
estivera com Sarney por conta das Diretas.
Quanto ao
seu partido, o PCdoB, já em 1994, entendia não haver nada demais em se “juntar”
ao Sarney. Naquele ano, quando tivemos, pela primeira vez a chance de derrotar
o grupo Sarney na política estadual, PCdoB, já no primeiro turno, recebia apoio
de Roseana para suas campanhas. No segundo turno, fechou de vez o apoio e só
saiu do grupo quando este não os quis mais.
Logo, não há
qualquer dificuldade em se costurar uma aliança “pragmática” em torno de
interesses comuns, ainda que seja para negar tudo que se disse até aqui e
passarem a dizer que o melhor para o Maranhão é o retorno de um Sarney ao
comando do estado.
Quando sua
excelência, recusou ou não quis o apoio dos Sarney para os seus projetos
políticos?
Sobre isso
existem dois episódios, que se confundem em um só.
O primeiro,
em meados de 2007, o processo de cassação de Jackson Lago, caminhava acelerado
e, por alguma razão de cunho pessoal, seu advogado originário não poderia
comparecer a uma determinada audiência. Eis que alguém sugeriu o nome do então
deputado federal, para fazer às vezes de advogado do governador. Com o
prestígio do cargo de deputado e de ex-juiz, seria de grande valia.
Concluído o
ato processual, acho que foram em palácio “prestar contas” ao cliente.
Um amigo me
disse que ainda hoje lembra quando sua excelência bateu em suas costas e disse:
— agora quero saber o que vocês vão fazer por mim, pois me “queimei” com o
outro lado.
O segundo
episódio é um pouco menos edificante e só acreditei porque quem me disse
testemunhou com os próprios olhos.
Disse ele
que no dia em que o TSE, em abril de 2009, sacramentou a cassação de Jackson
Lago, o seu advogado, o deputado federal e ex-juiz, ao invés de ir “consolar” o
cliente que acabara de ser derrotado, foi a casa de Sarney felicitar a
vencedora pela vitória.
O amigo,
testemunha ocular de tal fato, confidenciou-me: — Nunca tinha visto algo
semelhante até então.
Tudo bem,
talvez tenha sido só um gesto de solidariedade pelo apoio “informal” que
recebera do grupo na eleição para prefeito da capital em 2008.
Mas me
parece que tenha sido apenas o velho pragmatismo que tenha se feito presente
mais uma vez, como o foi antes e depois, quem não lembra do episódio Waldir
Maranhão?
Quem ainda
se surpreende com tal pragmatismo, talvez devesse olhar para o ex-governador
José Reinaldo Tavares.
Quem poderia
imaginar que depois de tudo que fez pelo projeto político de sua excelência, o
ex-governador seria simplesmente “rifado”, como foi, do seu sonho de ser
senador da República?
Todos tinham
por certo que seria o seu primeiro candidato, que não tivera mais força no
governo por visões distintas de governo, mas seria o senador garantido. Não
foi. Sua excelência preferiu como primeiro senador, o senhor Weverton Rocha e
para segundo, a senhora Eliziane Gama. Apesar de José Reinaldo, ter dito que só
sairia do grupo se não o quisessem, foi simplesmente ignorado e lançado ao
ostracismo político apesar de tudo que fez – e do quando, ainda, poderia
contribuir com o Maranhão e o Brasil.
É assim
mesmo, na nova política não há espaço para amizades sinceras, respeito ou
gratidão, mas, sim, para os “acordos” que não ousam dizer o nome.
Nenhum comentário:
Postar um comentário