domingo, 8 de janeiro de 2023

Homenagem pelos 90 anos de Raimundinho de Paulo Castro. Por Graça Leite

O COFINHO DE MACAXEIRA

No final do mês de novembro, tomei conhecimento das comemorações dos 90 anos do amigo Raimundinho Castro.

Esse senhor de semblante sério e alma de criança travessa, é hoje um marco de cumplicidade entre ele e a nossa cidade antiga, a Pinheiro  dos anos 50/60/70, quando o Botequim de Paulo Castro funcionava como um esplendoroso  local onde se reunia a palpitante juventude  masculina Pinheirense. Era de lá que vinham os sons das tacadas nas bolas coloridas do bilhar; de lá vinham também os sabores do melhor picolé da cidade e era de lá, do Botequim do Paulo Castro, que vinha a primeira rebeldia dos rapazinhos pinheirenses, escondidos dos pais, saboreando a primeira cerveja, comprando escondidos os primeiros cigarros.

Por esses e outros motivos “mágicos” aquele bar era principal é única opção de encontros  e reuniões de lazer da juventude masculina da cidade,aliás, exclusivamente masculina  pois as moças não frequentavam bares naquela época, mas as donzelas sempre  arranjavam um pretexto para visitarem as Lojas Pernambucanas que ficava em frente ao Bar, ou até mesmo sem nenhum motivo, passarem em frente ao ao bar do Paulo Castro, só para receberem um assobio(fiu! fiu!) interpretado,na época, como um galanteio.

O escritor cubano Leonardo Panduro, proclama que uma cidade tem alma, tem som, tem cheiro e sabor e eu concordo com ele. 

A nossa  cidade de Pinheiro, no passado, tinha alma, som, sabor e cheiro do Botequim do Paulo Castro.

Alguns pinheirense como eu ligados às suas origens lamentam o que se perdeu desse lugar cativante.

Ver hoje o sobradãoda Av.José Sarney esquina com a Av. Paulo Ramos transformado em ruínas, assíncrona a maioria dos prédios ao seu redor, deixa alma da cidade mergulhada em nostalgia.

        A Farmácia da Paz… acaba de D. Sofia, a da D.Nila Pereira… a da D.Nhazinha….todas elas todas elas arruinadas ou destruídas, não resistiríamos apelos da modernidade e lá estão arruinadas guardando pedaços da nossa História. Parece qua a cidade progressistareseevou aquele pedaço de rua para gritar o nosso passado.

Esse museu aberto, em decadência, já foi o mais belo quarteirao da cidade ,exibindo canteiros floridos no centro da rua e belas casas com estilos arquitetônicos colônias. Dentro dessas casas a vida rotineira de famílias bem constituídas era tão peculiar que as necessidades e as novidades eram compartilhadas por cima das cercas de “ pau a pique”que separavam os quintais.

Quando chegamos na porta de José Maria Gonçalves (próximo ao bar) avistei Deusdedit e Raimundinho sentados na porta do bar. Só então insisti na troca de cargas; quis tirar a  força a criança dos braços da mãe, mas a criança gritava, esbrajevava, esperneava e eu firme no propósito de trocar o xodó de macaxeiras pela  criança.

Deusdedit e Raimundinho observavam a cena  às gargalhadas. O duelo  demorou uns cinco minutos e eu não tive outra alternativa, a não ser passar em frente dos dois, carregando o cofinho de macaxeira de um lado e a bolsa importada a tira colo do outro. Com as pernas trêmulas mal conseguia equilibrar a minha elegância sobre os altos LuisXV do sapato bico fino que  eu usava.

Ainda hoje, quando vejo esfumar-se no tempo essas lembranças, relembro as gargalhadas de Deusdedit e Raimundinho  e o meu constrangimento, passando em fronteais dois, carregando aquele cofinho de macaxeiras. Nao sei se ele(Raimundinho) ainda recorda desse fato, porém eu o registro e ofereço-lhe, fascinada pela nossa  Pinheiro e pela História da nossa terra, da qual você foi um dos protagonista.

          

         Graça Leite

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