As marcas do fanatismo
Três coisas na história da humanidade têm
sido fonte das maiores atrocidades cometidas pelo homem: a religião, a raça e a
ideologia. A primeira, que começa no dogmatismo, passa rapidamente para o ódio
e descamba para a atrocidade. Há pior lembrança na história do homem do que a
Inquisição? A fogueira queimando vivas as pessoas que eram consideradas
infiéis. A arma dela era a delação. Os inimigos construíam mentiras, inventavam
calúnias, fatos inexistentes que serviam de motivo para os famosos tribunais
inquisitoriais que levaram tantos inocentes ao sofrimento da fogueira. Dos
tempos antigos à perseguição aos cristãos levados a serem devorados pelas feras
no Coliseu e Nero comandando o espetáculo. Quantos santos e mártires não estão
inscritos nessa mancha simplesmente por acreditarem na vinda do Messias e na
recusa de adorar os deuses pagãos.
Veja-se do que o fanatismo religioso é capaz
nas imagens indignas da destruição no Museu de Mossul, das estátuas
babilônicas, de milhares de anos antes de Cristo, que guardavam não só a arte,
mas, através dela, os costumes e a evolução da humanidade. Já antes o que
fizeram com o Museu de Bagdá, de onde levaram a mais antiga relíquia da
história da escrita, que era a Pedra em que ficaram registrados os primeiros
sinais em que o homem pensou em transferir a memória para símbolos – hoje as
letras, ideogramas e escritas de toda forma.
O segundo, a perseguição e discriminação
de raça, cujo exemplo maior é o holocausto que levou à câmara de gás e fornos
crematórios milhões de judeus pelo ódio demente de Hitler na busca da raça
ariana pura. A escravidão dos negros considerados como se não fossem humanos e
sim coisas que podiam ser vendidas, trocadas, mortas, assim foram vítimas dos
maiores sofrimentos de uma raça.
A terceira e mais sofisticada: as
ideologias. Estas foram tantas e tão diversificadas que foram as que mais se
propagaram e foram transformadas em costumes que serviam a motivações de todo
tipo, englobando raça, religião e crenças pessoais – e até simulacro de boas
ideias – quando, no fundo, o que prevalecia era quase sempre o interesse
individual. Vejam-se os bilhões de pessoas mortas pelo stalinismo, sob a visão
de uma sociedade sem classes. O nazifascismo, com outras motivações. O Gulag é
um símbolo desse tipo de atrocidade.
Há uma palavra que parece não ser tão
forte, mas que define toda essa violência sofrida pelo homem por diversos
motivos: INJUSTIÇA.
O Maranhão não fugiu a nenhuma dessas
misérias. A Inquisição por aqui passou e li há algum tempo um excelente
trabalho de pesquisa feito por uma historiadora na nossa universidade federal,
que infelizmente não guardei. Quanto à raça temos a marca do crime da Baronesa
de Grajaú, e o relato do que foi o cativeiro na obra monumental de Josué
Montello, Os tambores de São Luís, e as ideologias, estas, são constantes e
agora renascem, depois de mortas, na perseguição vergonhosa que se derrama em
todos os níveis.
Derrubam-se em Mossul as estátuas do
passado sem adotar nenhuma proporção, mas aqui destrói-se a Fundação da Memória
Republicana Brasileira. Agora, na pior de todas, inclui-se Roseana na
investigação de um escândalo que envergonha o Brasil. E nesse gesto está a
política do Maranhão. A instituição sagrada do Ministério Público, a qual meu
pai pertenceu e eu fui um dos maiores beneméritos, prestigiando-a toda a vida –
fui eu, como governador do Maranhão, o primeiro no Brasil a igualar o MP à magistratura;
e sua atual organização foi feita pelo ministro (Sepúlveda) Pertence, durante
meu governo e na Constituinte -, está sendo colocada agora mais a serviço do
personalismo político do que do partidarismo.
Um cabeça coroada do órgão, cérebro e
braço direito do dr. Janot, foi recusado para o CNMP pelo Senado. Agora, o dr.
Janot, em solidariedade ao colega, coloca mal a instituição MP. Como vem
fazendo desde a última eleição, quando pediu intervenção federal no Maranhão e
perseguiu a governadora Roseana Sarney no episódio de Pedrinhas, resolve
vingar-se de mim, atribuindo-me a culpa pela recusa do amigo. Eu não votei, não
presidi a sessão que recusou seu nome, e nem sabia da votação. Agora, o dr.
Janot, na sua escolha da lista dos destinados autos de fé, inclui Roseana nessa
cloaca. Ela nunca foi à Petrobras, nunca teve nenhuma relação com o senhor
Paulo Roberto, nunca teve nenhum pleito na Petrobras por firmas ou pessoas.
Da Petrobras, só pediu, não pedindo, mas
– como dizia o padre Vieira – exigindo e protestando, a Refinaria de Bacabeira
a que o Maranhão tem direito.
Assim, é justo o nosso direito de revolta
pela INJUSTIÇA. Minha, porque jamais – não é do meu feitio – seria capaz de
recusar o dr. Nicolao Dino por motivos pessoais, que não tinha e não tenho,
cujas referências de bom profissional sempre ouvi; e de Roseana, que está
amargando o fel da vingança, uma mistura de ódio e política.
Quais as acusações? O senhor Paulo
Roberto teria dito que Lobão pediu a ele para ajudar Roseana na eleição.
Youssef diz que não confirma nenhum pagamento a Roseana.
E o que fala o dr. Janot (ele?): “Apesar
das divergências entre as versões de Costa e de Youssef, o Ministério Público
Federal considerou que havia elementos suficientes para a abertura de inquérito
contra Roseana”. Quais esses elementos? Não disse nem tem. Evidentemente, o dr.
Janot fez uma escolha e usou a instituição Ministério Público para sua atuação,
nessa escolha de a quem denuncia ou não, atarefado com sua própria eleição
nestes dias.
Essa a verdade.”
Por:José Sarney
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