Em 2013, o país
ganhou destaque no noticiário com os inesperados protestos de junho e por estar
no centro do escândalo internacional de espionagem.
A BBC Brasil fez
uma lista de dez temas que puseram o país em evidência neste ano. Confira e
relembre os fatos.
1. Incêndio em Santa
Maria
O Brasil acordou mais
triste no domingo 27 de janeiro.
Dezenas de bombeiros
ainda trabalhavam no resgate de vítimas do incêndio na boate Kiss em Santa
Maria, no centro do Rio Grande do Sul.
A tragédia deixou, ao
fim, 247 mortos e mais de cem feridos. A investigação mostrou que o incêndio
teve início com o uso de fogos pirotécnicos por parte da banda Gurizada
Fandangueira. Os integrantes do grupo e os donos da boate foram indiciados por
homicídio doloso.
A investigação
mostrou ainda que havia superlotação no local e uma série de irregularidades. A
espuma acústica, por exemplo, era feita de material tóxico – a fumaça foi uma
das causas das mortes.
A morte de mais de
200 jovens, a maioria universitários, causou comoção nacional e motivou uma
discussão sobre a segurança nas boates do país.
Mais tarde, a
investigação também apontou responsabilidade dos bombeiros e das autoridades,
que não haviam feito as vistorias necessárias no local.
2. Estupro de turista
no RJ
A pouco mais de um
ano da Copa do Mundo, o estupro de uma turista americana de 21 anos no Rio de
Janeiro em março deste ano colocou em evidência o estado de insegurança nas
cidades brasileiras.
A turista foi
estuprada oito vezes, por diferentes homens, na frente do namorado francês. O
crime aconteceu após o casal tomar uma van que atuava no transporte público em
Copacabana.
O casal passou seis
horas em poder dos estupradores e foi deixado em São Gonçalo, na região
metropolitana, antes de os criminosos forçarem a vítima a tentar fazer um saque
em um caixa eletrônico.
O fato de o estupro
ocorrer em uma van, com películas de insulfilm, que bloqueava a visão dos que
estavam fora, fez lembrar o caso da jovem indiana violentada em um veículo de
transporte público. O caso causou comoção internacional e manchou a imagem da
Índia.
As autoridades se
apressaram em resolver o caso. Os acusados foram rapidamente localizados. Em
agosto, a Justiça condenou três homens por envolvimento no caso.
3. Seleção brasileira
recupera imagem
A Seleção Brasileira
começou 2013 desacreditada. O time do país sede da Copa do Mundo acumulava maus
resultados e atuações ruins, mesmo tendo alguns dos melhores nomes do futebol
mundial, como Neymar.
O comando do time
havia sido trocado de surpresa, em novembro de 2012. No lugar de Mano Menezes,
assumiu Luiz Felipe Scolari.
Mesmo sob o comando
de Felipão, que havia liderado a conquista do pentacampeonato mundial em 2002,
a seleção ainda não convencia os torcedores.
A apreensão continuou
até o início da Copa das Confederações, espécie de ‘ensaio’ antes do Mundial.
As boas atuações
dentro de campo foram empolgando aos poucos os torcedores. Em meio aos
protestos de junho, o tom nacionalista das manifestações acabou sentido nos
estádios. Em todos os jogos, o momento do Hino Nacional se tornou um momento de
júblio da torcida.
Ao final, a seleção
venceu a favorita, a Espanha, atual campeã mundial. A vitória por 3 a 0 parece
ter finalmente convencido os torcedores e recolocado o Brasil na lista dos
favoritos para a Copa do Mundo de 2014.
4. Protestos
Em junho deste ano,
um pequeno grupo de manifestantes do Movimento Passe Livre em São Paulo entrou
em choque com a polícia em meio a um protesto contra o aumento do passe de
ônibus de R$ 3 para R$ 3,20.
Cenas da violência e
da arbitrariedade da polícia ganharam as redes sociais. O movimento, que já
existia em várias cidades, começou a ganhar força com o que foi considerado
abuso policial. Uma manifestação foi convocada para o dia 17 de junho em São
Paulo e no Rio de Janeiro.
Nesse dia, uma
multidão de mais de 100 mil pessoas saiu às ruas do Rio, de São Paulo e de
várias outras cidades. O protesto foi além do aumento nas passagens e as ruas
fizeram eco às mais variadas manifestações. Havia desde cartazes contra PEC-37
(projeto de lei que limitava o poder de investigação do Ministério Público) até
a favor do Estado laico.
Os protestos pegaram o
país de surpresa. A classe política se viu acuada e os dirigentes viram sua
popularidade diluir rapidamente. Em Brasília, manifestantes chegaram a ocupar o
teto do Congresso Nacional.
Autoridades do Rio,
de São Paulo e outras cidades cederam aos protestos e baixaram o preço das
passagens. A opinião pública, resistente aos protestos inicialmente, passou a
apoiar as manifestações. A polícia baixou o tom repressivo. Protestos
tornaram-se cotidianos por quase dois meses.
Ao longo das semanas,
o debate político se acirrou nas ruas. Houve registro de brigas entre grupos
opostos. Os protestos também ganharam a presença dos Black Blocs, grupo de
mascarados de inspiração anarquista, que passaram a promover quebradeira de
agências bancárias. Os protestos acabaram ofuscando a Copa das Confederações.
5. Espionagem
Em junho deste ano,
um ex-colaborador da NSA (Agência Nacional de Segurança) de apenas 29 anos
criou um imbróglio diplomático para o governo dos Estados Unidos.
Edward Snowden
revelou um grande esquema de espionagem no qual agências de inteligência
estariam monitorando secretamente milhões de telefonemas, e-mails e outras
mensagens de cidadãos americanos e de vários países.
Snowden vazou as
informações a partir de Hong Kong ao jornalista americano Glen Greenwald, que
vive no Rio de Janeiro. O ex-colaborador da NSA passou a ser buscado pelos
Estados Unidos e acabou na Rússia, onde ganhou asilo temporário.
Os vazamentos
mostraram que, além de cidadãos comuns, dezenas de chefes de Estado também eram
monitorados, entre eles a presidente Dilma Rousseff.
Na esteira do
escândalo, Dilma cancelou a visita de Estado que faria a Washington, sobretudo
após revelações de que a Petrobrás também teria sido alvo.
Dilma criticou
fortemente a espionagem na Assembleia Geral da ONU, em setembro. Em seguida, os
vazamentos mostraram que a chanceler alemã, Angela Merkel, teve o próprio
celular grampeado.
Merkel reagiu. Brasil
e Alemanha apresentaram uma resolução contra a espionagem na ONU. Snowden
continua asilado na Rússia e chegou a escrever uma ‘carta ao povo brasileiro’,
que levantou especulações sobre um pedido de asilo ao Brasil. Em dezembro, um
juiz federal considerou o sistema de espionagem ilegal.
6. Leilão de Libra
Ainda sob o calor das
manifestações, o leilão do Campo de libra, o primeiro sob o novo modelo de
partilha, se deu sob tensão.
O governo convocou o
Exército para fazer a segurança do hotel na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Na imprensa internacional, a imagem de soldados montando guarda junto a
banhistas na praia ilustrou o leilão de uma das maiores reservas petrolíferas
do mundo.
Ao fim, apenas um
consórcio apresentou proposta, para a decepção de muitos analistas. O grupo
formado pela Petrobrás, a anglo-holandesa Shell, a francesa Total e as chinesas
CNPC e CNOOC arrematou o campo.
O consórcio também
deu o lance mínimo de R$ 15 bilhões, mais mais 41,65% do petróleo produzido
após descontados os custos de produção (o chamado lucro-óleo).
A expectativa é que o
Campo de Libra produza 1,4 milhão de barris de petróleo por dia, no seu pico de
produção.
O governo comemorou o
resultado, mas muitos analistas não tiveram uma opinião tão positiva. A
imprensa internacional também teve opinião díspar sobre o leilão.
A revista alemã Der
Spiegel disse que o Brasil leiloou um ‘tesouro por uma pechincha’. Já o Wall
Stret Journal afirmou que o país deu um passo rumo ao patamar das grandes
nações produtoras de petróleo.
7. O tombo de Eike
Batista
Ele era o garoto
propaganda do crescimento econômico do Brasil. Com uma fortuna estimada em US$
30 bilhões, o empresário Eike Batista foi apontado em 2012 como o sétimo homem
mais rico do planeta pela revista Forbes. Mas para ele era pouco – Eike disse
que em breve estaria no topo da lista.
A ânsia bilionária de
Eike, no entanto, não resistiu à desconfiança do mercado. A baixa lucratividade
de suas cinco empresas, a MMX (mineração), MPX (energia), OGX (petróleo), LLX
(logística) e a OSX (petróleo) fizeram a fortuna de Eike ruir. A dívida das
empresas e da holding seria de cerca de US$ 28 bilhões.
Em novembro, a OGX
entrou com um pedido de recuperação judicial. Eike agora corre contra o tempo
para equilibrar as contas da empresa. Se não conseguir, em breve poderá ver a
falência da OGX.
Mais que um império empresarial, a derrocada de Eike também pode fazer ruir
projetos audaciosos do empresário carioca. Já não se sabe qual será o destino
do Porto de Açu, um imenso complexo no litoral norte do Rio de Janeiro.
Eike havia
apadrinhado vários projetos na cidade. Mas a crise que assolou os negócios do
empresário fez Eike cancelar os investimentos nas UPPs cariocas e colocar à
venda o emblemático Hotel Glória, sob restauro.
8. A oposição se
realinha no Brasil
Durante as
manifestações de junho, a presidente Dilma Rousseff viu sua alta popularidade
encolher em questão de dias. Se até então a presidente parecia ter pela frente
uma reeleição garantida com facilidade, o turbilhão político fez Dilma se
deparar com um cenário eleitoral improvável.
O cenário ganhou tons
ainda mais surpreendentes em outubro deste ano, com o anúncio da aliança entre
Marina Silva e Eduardo Campos, dois ex-ministros do governo petista.
Marina, ex-ministra
do Meio Ambiente do governo Lula, já havia saído a grande novidade das eleições
em 2010, quando ficou em terceiro lugar com mais de 20 milhões de votos, então
pelo Partido Verde. Após desentendimentos, Marina deixou o PV e passou a
militar pela criação da Rede Sustentabilidade, um novo partido.
A Rede não conseguiu
validar o número mínimo de assinaturas para se efetivar como partido e teve sua
criação barrada. Em uma jogada inesperada, Marina anunciou em outubro sua
filiação ao Partido Socialista Brasileiro, o PSB, do governador pernambucano
Eduardo Campos.
Campos também almeja
chegar ao Planalto. Ainda não se sabe qual dois dois estará na cabeça da chapa,
que pode desbancar o PSDB como primeira opção da oposição no país.
Enquanto Marina e
Campos anunciavam o noivado improvável, o líder do PSDB, Aécio Neves, ainda
tentava impor sua candidatura sobre José Serra, que não dava mostras de desistir
da corrida à Presidência, apesar de ter amargado duas derrotas. Serra anunciou
na última semana apoio a Aécio. Mas embora a oposição tenha já posto o batalhão
na rua, Dilma recuperou parte da popularidade, com pesquisas apontando para seu
favoritismo em 2014.
9. A economia patina
Após virar o
queridinho da imprensa internacional, que não cansava de elogiar o vigor da
economia, o Brasil virou alvo de desconfiança dos mercados em 2013.
Em setembro, a
revista britânica The Economist colocou na capa a frustação com a economia
brasileira. O Cristo Redentor, que anos antes aparecia decolando em outra capa
da revista, desta vez aparecia desgovernado, prestes a se chocar com o solo.
Após o PIBinho de
2012, quando o país cresceu apenas 0,9%, a promessa do governo era a de que o
país teria um resultado mais vigoroso neste ano.
Ao longo dos meses,
no entanto, a economia deu sinais pouco promissores e as expectativas foram
diminuindo. Em dezembro, a pesquisa Focus do Banco Central, que avalia a
opinião de fontes do mercado, disse que o país não deve crescer mais que 2,3% –
resultado que não é uma tragédia, mas que está longe dos 7,5% de 2010.
Além da
desaceleração, o governo viu picos de elevação da inflação, que ao fim deve
fechar dentro do teto meta de 6,5% em 2013. Também houve ao descompasso das
contas públicas, com excesso de gastos do governo e a expectativa de que o
Brasil não cumpra a meta do superávit primário deste ano.
Apesar dos números
pouco promissores, o desemprego chegou ao nível mais baixo da história. Em
dezembro, o índice de desocupação era de apenas 4,6%.
Para muitos
economistas, a economia deve voltar a ganhar fôlego em dois ou três anos,
quando se fizer sentir o efeito das privatizações de aeroportos, estradas e
ferrovias, feitos pela presidente Dilma Rousseff.
10. A Copa, sempre a
Copa
Em menos de uma
semana, no dia 31 de dezembro, todos os 12 estádios para a Copa do Mundo
deveriam estar prontos. A expectativa é que apenas metade deles, no entanto,
cumpra o prazo.
A contagem seria
diferente se em novembro a grua que levantava a última parte do teto da Arena
São Paulo não tivesse caído e matado dois operários. Mais de 90% do estádio
estava pronto.
As duas mortes na
arena que vai receber o jogo de abertura da Copa trouxe à tona, mais uma vez, o
atraso nas obras e a correria para deixar tudo pronto.
Em dezembro, foi a
vez de Manaus registrar outro incidente fatal. Um operário despencou e perdeu a
vida, após um cabo se romper. No mesmo dia, outro operário morreu, vítima de
ataque cardíaco, nas obras de um centro de convenções ligado à Copa.
Familiares e
operários culparam a correria pelas mortes. A Justiça chegou a paralizar as
obras e trabalhadores entraram em greve. Ao todo, sete operários perderam a
vida nos canteiros de obra.
A expectativa, agora,
é que até abril todos os estádios estejam prontos. Sob a marcação cerrada da
imprensa internacional, o Brasil se apressa em deixar tudo preparado para a
Copa.
Além das obras nos
estádios, o governo tenta ainda driblar eventuais problemas nos aeroportos e a escalada
dos preços dos hotéis, que já anunciam diárias exorbitantes para os dias do
Mundial.
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