No dia 15/03/2023, estava eu, Dra. Rebecca Oliveira Araújo, inscrita sob o CRM-MA: 12363, de plantão no hospital PROBEM, no município de Governador Nunes Freire, eram por volta de 17:45, quando ingressa ao consultório uma senhora acompanhada do filho
que estava assintomático, não se queixava de nada no momento. A senhora na maior arrogância do mundo disse que tinha ido lá para mostrar uma endoscopia digestiva alta, que outro médico teria solicitado, então eu falei que lá não era local de interpretação de exames, pois se tratava de um serviço de urgência e emergência, e o quadro atual do paciente não se encaixava em nenhum dos dois, expliquei que ela precisava ir ao posto de saúde da área dela para marcar uma consulta e fazer o acompanhamento a nível ambulatorial. Após eu explicar como ela deveria proceder, a acompanhante subiu o tom de voz, disse que eu tinha que olhar o exame lá e passar a receita. Eu disse que não, que ela precisava ir ao posto para ser feito o tratamento pq lá que tinha acompanhamento, pra saber se a medicação estava sendo efetiva ou se ia precisar trocar de medicação de acordo com o que ele estivesse sentido, enfim, expliquei como funciona o atendimento na esf e que na emergência não tinha como ter esse tipo de atendimento. Mesmo com todo esse tumulto eu ainda olhei a endoscopia e expliquei que não tinha nada agudo, estava com H Pylori e gastrite, que poderia ser tratado pelo posto. Ela falou: então quer dizer que vc não vai me dar a receita? Eu respondi que não. Aí ela gritou dizendo que me mostrava se eu não ia fazer essa receita, que estava indo na direção. Falei que ela podia ficar a vontade.
Algum tempo depois a senhora conhecida por Dorylene, a qual se diz diretora do hospital, entrou dentro do consultório falando alto, nem se quer me escutou, já foi tomando as conclusões de acordo com o que a paciente falou pra ela. O consultório estava lotado: eu, as duas internas, técnica, uma criança desidratada (que por sinal eu estava internando),os pais da criança, e a paciente do exame.
Ela entra no consultório com a endoscopia na mão, me desmoralizando, gritando na frente dos pacientes e de toda equipe, falando que eu tinha que fazer a receita pq lá era um hospital político, e que em hospital assim se faz o que eles mandam (tentando me coagir a fazer a receita contra a minha vontade), disse que eu era uma péssima médica pelo fato de não fazer um tratamento de uma paciente (uma paciente super arrogante e que não era emergência, era ambulatórial), disse que eu não servia para fazer plantão la, pq não me enquadrava nas normas do hospital (já que é um hospital político). Falei que terminaria o meu plantão e não pisava mais lá, e ela disse em alto, claro e bom tom para todos que estavam lá que ERA PARA EU ME RETIRAR DO HOSPITAL IMEDIATAMENTE, que era para eu ajeitar minhas coisas e ir embora do plantão pq não me queria mais lá.
No dito hospital, se tem a mania de querer que os médicos atendam pacientes que são da situação política de forma prioritária, muitas vezes eu fui a sala da direção atender esses pacientes, pois esses ditos não podem esperar como a população em geral, o que já é um absurdo.
Foi a situação mais constrangedora que eu já vivi na minha vida profissional, mais humilhante, me senti totalmente coagida, desmoralizada, desprotegida. Fui para o repouso médico arrumar minhas coisas, lá comecei a chorar, e mesmo tentando me controlar, não conseguia me manter forte, mesmo assim, arrumei minhas coisas e decidir ir embora. Eu estava no exercício da profissão médica, dentro de um estabelecimento de saúde público, com meu crm ativo, prestando toda a atenção que a população merece e realizando o meu trabalho de forma digna. É inadmissível que nós como médicos, que nós como sociedade, continuemos a aceitar esse tipo de absurdo, onde está a autonomia médica ? Para que estudamos durante 6 anos? Não podemos mais aceitar esse tipo de abuso das pessoas que estão à frente dos serviços de saúde e que não respeitam a autonomia médica, e nesse caso não respeitam nem a população, pois estão fazendo de um hospital público um hospital onde a prioridade é atender aliados politicos, e não o povo que mais precisa no momento. Creio que esse momento devemos nos unirmos como médicos, em prol da nossa classe e em busca de reivindicações para repudiar esses acontecimentos, de modo que tenhamos nossa autonomia profissional respeitada e que se puna os responsáveis por tamanha falta de compromisso e de respeito com a classe.
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