João Melo e Sousa
Bentiví
Médico, jornalista,
advogado, professor universitário, músico, escritor, poeta e doutorando em
Ciências Empresariais (Univ. Fernando Pessoa – Porto/Portugal)
O jornalismo político opinativo do Maranhão tem muita tradição. Volto à minha
memória e lembro-me de Erasmo Dias, na combatividade antropofágica, Luiz Carlos
Cunha de verve exponencial e ferina, Bernardo Almeida, com prudência e
elegância, Américo Azevedo Neto, com genialidade, humorismo e sarcasmo, Ademário
Cavalcante, com a perspicácia de ver o que ninguém quase via, entre outros.
No meio desses, muito melhores que eu, decerto, durante dezenas de anos
pontilhei na análise política, inicialmente no Jornal de Hoje, pela compreensão
do América Azevedo e não deixo de recordar a minha primeira crônica, ainda
escrita em uma máquina Remington. Depois passei ao Atos e Fatos, com meu saudoso
Udes Cruz, onde nasceu uma sensacional coluna JANELA LIVRE, que findou, depois
de anos, no Jornal Pequeno.
Deixei de escrever por algumas razões que não cabem discorrer, mas deixo
claro aos leitores que para um jornalista do meu quilate escrever em algum
veículo, o único combustível que exijo é liberdade. Nunca ganhei um centavo por
ser jornalista, mas nenhum jornalista foi tão bem pago, quanto eu. O prazer de
ser e contribuir com a sociedade, sem hipocrisia, é o maior de todos os
salários.
Dito isso, vamos ao tema.
Há seis meses, após a vitória estupenda do governador Dino, a maioria das
pessoas suporia que o sarneisismo estava destruído e Roseana pior ainda. Aqui,
com meus botões, em algumas participações nas AMs, alertei aos senhores do
governo que o sarneisismo era muito robusto para morrer com um simples
tacape.
Imediatamente fui criticado pelos beócios (todo governo tem proeminência de
beócios) com o argumento de que eu estava elogiando a oligarquia! Eu estava
certo.
Menos de seis meses, após férias floridenses, Roseana senta-se no comando da
nau sarneisista e começa a dar as cartas e, desse quartel, ela entende. As
consequências podem ser interessantes.
Primeiro, bota ordem no terreiro. João Alberto, Ricardo Murad, Lobinho e
companhia passam a se comportar como, no máximo, coronéis. General só tem um:
ela!
A única coisa que pode atrapalhar é um tal de Moro. Mas olhando com faro
jornalístico e um pouco do advogado que sou, o precatório da confusão, antes de
chegar em Roseana, passou por muitos outros atores, incluindo a cúpula
judiciária do Maranhão e, em nenhum local, ela aparece recebendo o dinheiro. No
penal, os indícios são importantes, mas sem provas, indícios são nada. Ademais,
ninguém paga precatório sozinho e ontem, a acareação entre o doleiro e o Paulo
Roberto, ontem, injetou novo ânimo na senhora Roseana.
O governo Dino tem dado uma excelente contribuição para Roseana. Desafio a
qualquer pessoa a mostrar uma única linha, provinda desse governo, que mostre
uma só acusação sobre algum crime praticado pela ex-governadora, fora o tal
precatório. O alvo é sempre o Ricardo Murad e eu, na minha ignorância,
pergunto-me: o governador era o Ricardo?
Por isso repito: os seis meses do governo Dino estão dando um excelente
atestado moral e de honorabilidade para a senhora Roseana. Assim, fica para a
senhora Roseana somente a acusação de incompetência, aí ela não está sozinha,
é, no mínimo, segundo lugar, pois o primeiro posto ninguém toma do
Holandinha.
Volto o olhar para a campanha pretérita. Roseana que poderia usar o comando
para desarticular a oposição, fez um movimento inverso: matou o natimorto Luiz
Fernando e arrebentou o Lobinho, candidato teoricamente do seu governo. Uma
parte exponencial da vitória do Dino deve-se a inação ou ação temerária de dona
Roseana. De certa forma, Dino deve grandes favores a ela, não sei se vai pagar
um dia.
Como o governo Dino tem preservado a imagem da ex-governadora, pois a crítica
não tem sido feita a ela, mas a “oligarquia”, de repente, dolosa ou culposamente
o governo Dino estimula a volta ao ringue eleitoral, da ex-noviça rebelde, agora
centuriã, mas com muito gás.
Como não tem mandato, ao se posicionar, ainda que blefando, a vetusta
política já está no lucro. Ganhar eleição é outra coisa, mas só ganha luta quem
está no ringue. Ela nada tem a perder.
Tudo que falei pode ser devaneio, mas pode ser realidade. Jornalista não tem
obrigação de acertar as previsões, mas tem obrigação de fazê-las. Como o tema é
interessante, volto ao mesmo na próxima semana, com outros argumentos.
Até lá!
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