Um registro do que há de mais
autêntico no sotaque de orquestra: os metais solam em todas as toadas,
mostrando a sonoridade registrada nas décadas de 1980 e 1990. Essa é a essência
do álbum “31 anos de tradição”, o oitavo registro fonográfico do bumba meu boi
Estrela de Bequimão, grupo do município homônimo, que fica a 54 km de São Luís.
O grupo, que gravou três LPs e está
no quinto CD, traz neste álbum a participação especial do cantor Alê Muniz. “Já
tenho uma relação legal com o boi de Bequimão, a família da Luciana (Simões,
cantora e esposa de Alê), é de lá e é muito envolvida com as coisas do boi.
Então, me senti em casa e fiquei muito feliz com o convite porque gosto de
cultura popular, sou envolvido, participo”, diz Alê Muniz, que foi convidado
para cantar a toada “Joia Rara”, do compositor bequimãoense Nonatinho.
Para Tonho Lemos Martins, um dos
diretores do Boi Estrela de Bequimão, o CD é uma reafirmação da identidade do
grupo. “Temos o cuidado de nos policiar, pelo que vem acontecendo com outras
brincadeiras, que muitas vezes, sem perceber, acabam perdendo a sua
identidade”, ressalta Tonho Martins.
A resistência do grupo para se manter
próximo ao seu estilo original também se reflete na manutenção do cordão de
fitas, cada vez menos presente nos bois de orquestra, e em indumentárias sem
muito luxo para índias e vaqueiros – sem comprometer a beleza e a criatividade
dos brincantes, que se transformam em artesãos para bordar suas próprias
roupas.
“Para muitos grupos (de bumba meu boi
do sotaque de orquestra), estas mudanças nada mais são que a modernização da
brincadeira e eles até desejam acompanhar estas mudanças, mas vejo isso com
muita tristeza, pois gosto do tradicional”, diz Alê Muniz.
Toadas – O boi de Bequimão traz
nas letras das toadas as temáticas da fé religiosa, o amor, a cultura do seu
povo e a própria lenda que deu origem ao auto do boi. No CD “31 anos de
tradição”, os compositores e cantadores Germano, Lucas Gomes, Luís, Germaninho,
Dico e Nonatinho se dividem em 12 faixas inéditas, entre elas “Chegou Boi”,
“Lindos Canários”, “Proteção Divina” e “Melhor da Baixada”, única que já foi
executada nos arraiais.
Os músicos experientes precisaram de
três finais de semana seguidos de ensaio para entrar em estúdio e gravar o CD
em apenas dois dias. O cantor Alê Muniz se juntou ao batalhão, aceitando
prontamente o convite da direção da brincadeira. “Nós recebemos um presente do
Alê Muniz, que fez uma participação especial, interpretando a toada ‘Joia
Rara’, do compositor bequimãoense Nonatinho”, relembra Tonho.
O ensaio dos músicos durou três
semanas, mas para índias e vaqueiros campeadores a preparação começou bem
antes, ainda no mês de fevereiro. É o tempo necessário para que as coreografias
estejam bem sincronizadas para a principal festa da cultura maranhense. “Por já
ter 31 anos, o Boi Estrela de Bequimão se inseriu no folclore maranhense como
um dos pilares do bumba meu boi de orquestra tradicional. Da Baixada e Litoral
Ocidental, foi o primeiro”, garante, orgulhoso, o diretor da brincadeira.
Temporada – Para a temporada
junina de 2015, o grupo vem com cerca de 80 componentes, entre músicos, índias,
vaqueiros, caboclos de fita e os personagens do auto do boi (miolo do boi, pai
Francisco e Catirina). Com tantos brincantes, o Boi Estrela enfrenta
dificuldades comuns a outros grupos, pelo alto custo com transporte, alimentação
e cachê de músicos. “A despesa é muito grande. Bumba boi é pra quem gosta. A
gente não tem retorno financeiro, pelo contrário. É pra quem gosta”, reforça
Tonho Martins. Outra dificuldade apontada pelo diretor é a desvalorização dos
grupos que se mantêm mais autênticos ao sotaque de orquestra. Ele considera
que, principalmente em São Luís, essas brincadeiras têm perdido espaço.
Mas para quem quiser prestigiar o
bumba meu boi Estrela de Bequimão nos arraiais da Ilha, o diretor avisa que o
grupo fará apresentações entre os dias 26 e 29 de junho, em locais ainda a
serem definidos pela Fundação Municipal de Cultura (Func).
História – Fundado em 1984, o
bumba meu boi Estrela de Bequimão foi pioneiro na Baixada e Litoral Ocidental
maranhense no sotaque de orquestra. O pai do atual diretor, Tonho Martins,
chamou para uma reunião os amigos Lucas Gomes, Paulo Campos, Valber Almeida
(Vadico), João Almeida (Joca Mucura), Denilson Martins, Antonio Inácio
Rodrigues e Raimundo João Macedo. Era um grupo que já montava nos carnavais o
bloco tradicional “Estrela do Samba”.
A ideia, então, era criar uma
brincadeira para o período junino, que sempre foi marcado por festejos animados
no município de Bequimão. No início, eram reaproveitadas as fantasias do
Carnaval. As melhorias foram surgindo da maneira como acontece até hoje,
segundo os organizadores, com a ajuda da comunidade, de alguns parceiros e com
a proteção divina.
Saiba Mais
– O Boi Estrela de Bequimão tem 80
componentes, dentre os quais 90% são radicados e naturais do município de
Bequimão.
– O município de Bequimão tem uma
Escola de Música, onde são formados músicos que compõem a orquestra do boi.
– Todas as toadas são compostas e
interpretadas pelos artistas da terra.
-A orquestra do bumba meu boi Estrela
de Bequimão é composta por banjo, trompetes, trombones, tambor-onça, zabumba,
tamborim e agogô. Personagens como vaqueiros, índias, cordão com grinaldas
(chapéus de fitas), miolos, burrinha, Pai Francisco, Catirina e Pajé compõem o
boi.
Discografia
– 3 LPs (1991; 1992; 1993)
– 5 CDs (2000
“Coletânea”; 2004; 2005; 2006; 2008; 2015)
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