Na minha infância, a maior parte vivida em São
Bento em casa dos meus avós paternos, Dona e José Costa, o papa, o Santo Padre,
como se chamava, era uma figura sagrada, apontada como um santo na terra e
colocado numa redoma em Roma onde tinham acesso apenas os escolhido por Deus.
Nem seu nome era conhecido pelos cristãos, porque as missas eram em latim e não
havia a oração da comunidade para dar chance a que se rezasse por ele.
Pela graça de Deus, nos longos anos que Ele me deu,
vivi sob o tempo de sete papas.
Quando nasci era Pio XI, um pontífice que tinha uma
visão social, condenou o nazismo e o comunismo e pregava que a igualdade seria
alcançada pela doutrina social da igreja. Morreu em 1939 e foi eleito o seu
pupilo, então secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pacelli, homem de
grande valor intelectual. Quando cardeal visitou o Brasil, em 1934. Foi ele que
proclamou o dogma da Assunção de Nossa Senhora. Seu pontificado foi marcado
pela Segunda Guerra Mundial, quando foi apontado por uns como condescendente
com o nazismo e, por outros, como tendo uma posição destinada a salvar judeus e
católicos das perseguições de Hitler. Morreu em 1958, quando eu tinha 28 anos e
vi a eleição de João XXIII, o papa que criou a igreja moderna com o Concilio
Vaticano II. Durou poucos anos e foi sucedido por Paulo VI (1963 a 1978). A
este já conheci pessoalmente e a ele assisti, em companhia do grande nome da
diplomacia brasileira, embaixador Expedito Rezende, celebrar a missa de Natal
de 1977, já bem velhinho e com muita dificuldade para ajoelhar-se. Depois,
quando ele morreu, em 1978, vivi os trinta dias de João Paulo I, o Papa
Sorriso.
Como todo o mundo cristão, assisti ao anúncio na
televisão da escolha do cardeal Woityla, polonês, como João Paulo II, o grande
papa do nosso tempo, essa figura carismática que, com sua capacidade e fé,
evitou o cisma da Igreja e foi um momento de grande brilho do catolicismo,
inclusive como homem de Estado que mudou a História evitando a confrontação
nuclear ao ajudar a queda do mundo comunista. Com ele estive três vezes, duas
vezes em audiência pessoal, e por ele fui convidado a assistir à missa
particular que celebrava em sua capela pessoal, no Vaticano. Roseana também uma
vez que passou por Roma foi convidada por ele para assistir sua missa privada.
Ele a tratava sempre com grande carinho.
Minha mãe, quando ele foi eleito, me perguntou
perplexa: “Meu filho, escolheram um papa comunista?” Foi difícil para ela
entender que um homem vindo da Polônia vinha justamente para combater o
comunismo que, para ela, era contra Deus, contra a Igreja e perseguia os
cristãos. Depois, entre as felicidades que arrolava como graça de Deus para com
ela estava ter visto e comungado pela mão de João Paulo II, quando ele visitou
o Maranhão. “Deus foi tão generoso comigo que me deu a ventura de ver o Papa e
dele receber comunhão”.
A figura do papa nas alturas me foi passada pela
minha mãe e encheu minha infância e minha vida.
Com a morte de João Paulo II, viajei do Brasil em
companhia de Dom Odilo Scherer – que agora é papável – para assistir seu
funeral e vi a eleição de Bento XVI.
Estive com o papa Bento XVI duas vezes: uma em
audiência em companhia do embaixador Seixas Corrêa, outra quando ele visitou o
Brasil.
E agora estou assistindo à escolha de um novo papa,
o oitavo de minha vida, num momento tão difícil de nossa Igreja. Ela
atravessará todas as dificuldades, como atravessou todos os tempos.
O papa será sempre o papa da minha infância em São
Bento, símbolo da fé, guia espiritual de todos nós.
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