Da Coluna do Sarney
A internet provocou uma mudança tão profunda na
História da Humanidade que ninguém pode prever suas consequências em termos de
futuro. Ela não só substitui a civilização industrial que Galbraith diz que
duraria 500 anos, dos quais já consumimos 300, mas modificará nossa maneira de
pensar construída na lógica de causa e efeito.
Começa pelo
conceito de rede. Não há um centro gerador, ela se expande ao tempo em que você
ou qualquer pessoa se agrega a ela e se expande sem limites e sem limitações.
Nela pode dizer–se tudo, afirmar tudo, contestar tudo e questionar tudo. Um
fato pode ter infinidades de versões e a verdade passa a ter tantas verdades
que você não sabe onde ela está.
Por outro lado o poder, que era hegemônico, perde
essa qualidade fundamental para ser dividido entre todos que participam do mundo
digital, que opinam, decidem e vulneram qualquer decisão. Cria o pseudofato,
como advertia McLuhan, sobre a sociedade de comunicação.
As novas gerações passam de uma civilização oral
diretamente para uma visual, não passando pelo livro como fonte de conhecimento.
A Wikipédia é a fonte de todas as sabedorias. Basta que através da internet se
use três ou quatro toques e imediatamente torna-se a mais culta das pessoas,
discorrendo sobre o assunto que se fala. A memorização passou a ser
desnecessária e os jovens estão descobrindo isso. Com o tempo será difícil a
sobrevivência do livro, embora ele, é meu pensamento, jamais vá acabar.
No Fedro, de Platão, há uma passagem em que o rei
do Egito, quando lhe é comunicada a descoberta da escrita, capaz de reter nomes,
fatos, episódios, pensamentos, pergunta ao deus Toth, que a criou: “O que será
de nossas memórias? Ela vai desaparecer e não poderemos mais guardar as coisas
mais profundas e sobre elas estabelecer nossas reflexões e dissertações”.
Mas, hoje, o que está no auge das indagações são
as consequências do mundo digital sobre o poder. Desapareceu o tempo das
potências hegemônicas e do poder hegemônico. Hoje não existe mais o espaço da
bipolaridade e o mundo cria novos núcleos de poder que despontam aqui e ali e,
embora pequenos ou médios, inibem o poder maior.
Desse modo, a juventude que passa o dia e a noite
navegando vai transformando o mundo, por sua vez já transformado. O poder não
pode mais como nos velhos tempos.
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