quinta-feira, 6 de março de 2025

Sem estrutura para partos, hospital de Alcântara nega procedimento, e bebê morre dentro da mãe após peregrinação por socorro até Pinheiro, que também negou

Uma paciente grávida deu entrada no Hospital Neto Guterres, em Alcântara, na madrugada do dia 24 de fevereiro. Maridalva Ribeiro, de 43 anos, e o marido, Jadiel Sodré Costa, de 33, aguardavam ansiosos pela chegada do primeiro filho, Joaquim Ribeiro Sodré. No entanto, o que deveria ser um momento de alegria se transformou em desespero.

Ao chegarem ao hospital, foram informados de que a unidade não tinha estrutura para realizar o parto. Mesmo após aguardarem por cerca de 30 minutos, nenhuma solução foi apresentada. Sem alternativa, a família recebeu a orientação de buscar atendimento em outro município.

O casal precisou percorrer 113 km em uma ambulância até Pinheiro, onde, mais uma vez, não encontrou suporte. No hospital, alegaram que também não poderiam realizar o parto e recomendaram que a gestante seguisse para São Luís. Assim, Maridalva e Jadiel foram obrigados a continuar a peregrinação, enfrentando mais de quatro horas de deslocamento dentro da ambulância.

Durante o trajeto, a situação da gestante piorou. Sem a assistência médica necessária, o pequeno Joaquim não resistiu e morreu ainda no ventre da mãe. Quando chegaram ao terminal de Cujupe, onde iriam pegar ferry para São Luís, médicos conseguiram realizar o parto de emergência e salvar a vida de Maridalva.

A morte do bebê expõe a precariedade do sistema de saúde em Alcântara. Apesar de o município ter recebido milhões em recursos durante os dois mandatos do atual prefeito, Nivaldo Araújo, a cidade segue sem estrutura básica para partos, obrigando gestantes a se deslocarem por longas distâncias em busca de atendimento em outras cidades e ate mesmo em São Luís.

“Morto dentro de mim”

“Por conta da demora no atendimento, meu filho estava em posição transversal, chegou a virar, e entrou em sofrimento fetal e morreu sufocado com o cordão umbilical. Quando ele nasceu, já estava morto. Para mim, foi negligência médica. Passei por dois hospitais, me jogaram de um para o outro. Eu já estava até me despedindo da vida. Hoje, sinto que nasci de novo. Só tenho a agradecer a Deus por estar viva. A tristeza pela perda do meu filho é imensa, mas foi a pior sensação da minha vida”, chorou.

Outro lado

SLAMA procurou a secretária de Saúde de Alcântara, Jorgeanne Serejo, para esclarecer a situação, mas ela se recusou a falar sobre o caso, alegando que faria um relatório. No entanto, até o fechamento desta matéria, não apresentou nenhuma explicação e sequer respondeu às mensagens. A falta de transparência reforça o descaso com a população, que sofre com um sistema de saúde precário no município.

Já em Pinheiro, a reportagem tentou contato com a assessoria da prefeitura e com o secretário de Saúde, mas ambos simplesmente ignoraram as tentativas de comunicação. O silêncio das autoridades apenas evidencia o despreparo e a negligência com vidas que dependem do atendimento público.

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