A nova variante do coronavírus descoberta no Reino Unido, a B.1.1.7, parece se espalhar mais rapidamente, mas “não está fora de controle”, disse nesta segunda-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS), pedindo a continuação da aplicação de medidas sanitárias que já demonstram eficácia.
— Registramos um R0 [taxa de transmissão do coronavírus] muito superior a 1,5 em diferentes momentos desta pandemia, e a controlamos. Essa situação, nesse sentido, não está fora de controle — disse o chefe de emergências da OMS, Michael Ryan, em entrevista.
Ryan informou que “embora o vírus tenha se tornado um pouco mais eficiente em termos de propagação, ele pode ser interrompido”.
— As medidas atuais são boas. Devemos continuar fazendo o que fizemos até agora — disse o médico. — Podemos ter que fazer isso com um pouco mais de intensidade e durante mais tempo para ter certeza de que podemos controlar esse vírus.
A OMS disse que espera ter mais detalhes sobre o possível impacto da nova cepa do coronavírus em breve. Não há evidências de que a variante do vírus aumente a gravidade da doença, embora seja mais transmissível, disseram autoridades.
A OMS também afirmou que a emergência de variantes é normal da evolução de uma pandemia, e a descoberta mostra que novas ferramentas para rastrear o vírus estão funcionando.
— Ser capaz de rastrear um vírus tão de perto, tão cuidadosamente, cientificamente e em tempo real é um desenvolvimento realmente positivo para a saúde pública global, e os países que fazem esse tipo de vigilância devem ser elogiados.
Confira, a seguir, algumas perguntas e respostas sobre a nova variante do coronavírus.
O que é a mutação ocorrida no coronavírus?
Apesar do apelo sensacionalista que a palavra “mutação” adquiriu com histórias de ficção científica, ela descreve um fenômeno biológico corriqueiro e consiste em pequenos “erros de cópia” do material genético (DNA ou RNA) que ocorrem de uma geração para outra de um organismo.
A mutação ocorrida no coronavírus agora é preocupante?
Uma variante do vírus com 17 mutações, designada pela sigla “B.1.1.7” aumentou em prevalência no Reino Unido nas quatro últimas semanas, e cientistas levantaram um alerta, temendo que ela tenha ganhado espaço por ser mais infecciosa do que outras.
Essa variante do vírus é mais perigosa?
Há pouca informação científica disponível ainda, mas como oito das mutações do B.1.1.7 ocorrem na proteína “espícula”, que o Sars-CoV-2 usa para invadir células humanas, as alterações podem ter tornado o vírus mais capaz de proliferar.
Essa capacidade de proliferação já é comprovada?
Ainda não há experimentos de laboratório que confirmem essa infectividade, e por enquanto não se pode descartar que a prevalência do B.1.1.7 tenha aumentado via “deriva genética”. Por exemplo, pode ser que esse vírus tenha tido a sorte de entrar numa população humana que tomou poucas medidas de isolamento.
É preciso mesmo ampliar medidas de distanciamento?
O Reino Unido implementou novas medidas de “lockdown”, mas tinha motivos de sobra para isso, mesmo sem a presença do B.1.1.7, porque a epidemia saiu do controle na segunda onda. O bloqueio de alguns países europeus a voos britânicos é uma medida mais extrema.
A mutação vai prejudicar a efetividade de vacinas?
Existe um estudo sugerindo que uma das mutações do B.1.1.7 o ajude a escapar da detecção pelo sistema imune de pessoas teoricamente já resistentes ao coronavírus. Cientistas, porém, acreditam que vacinas devem gerar imunidade suficientemente abrangente para contornar isso.
Essa é a única variedade mutante preocupante do coronavírus?
Não. Uma variedade que cresceu na África do Sul também está na mira dos cientistas. Uma outra que se propagou bastante na Espanha durante o verão também levantou alerta, mas cientistas depois concluíram que sua proliferação era explicável pelo comportamento humano.
Como a nova variedade do vírus é detectada?
Em princípio, é preciso sequenciar o material genético do B.1.1.7 para identificá-lo, o que é caro. Um teste diagnóstico de PCR que detecta três segmentos do RNA do vírus, porém, pode ser útil para o monitoramento dessa variante, porque um dos segmentos perdeu sensibilidade ao teste. G1
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