Parceria não foi mutilada porque no meio do caminho tinha uma pedra...
Marcelo Vinicius Lemos1; José Lemos2 Em 1928, portanto há quase um século,
Carlos Drummond de Andrade escreveu o controvertido poema “No meio do caminho”
que tinha versos assim: “No meio do caminho tinha uma pedra / Tinha uma pedra
no meio do caminho / Tinha uma pedra/ No meio do caminho tinha uma pedra/ Nunca
me esquecerei desse acontecimento / Na vida de minhas retinas tão fatigadas...”
As populações de 58 municípios de duas das mais carentes Regiões do Maranhão
ficaram, por algum tempo, temerosas de que as agências do Banco da Amazônia
(BASA) de Pinheiro, que atende correntistas de 38 municípios da Baixada
maranhense, e a de Santa Inês, que atua em 20 municípios situados na região de
Pindaré, iriam ser desativadas.
Os municípios dessas áreas, de forma
majoritária, apresentam alguns dos menores IDH e PIB per capita, do Estado
Brasileiro que está pior situado nesses dois indicadores. São municípios com
vocações agrícolas e para atividades pesqueiras. Há uma prevalência de
agricultores familiares de pequeno e médio porte que produzem, principalmente,
arroz, feijão, mandioca e milho para a segurança alimentar das famílias, para
alimentar animais de criação, para a geração de ocupação continuada e de renda
para as famílias. Também há criação extensiva de gado bovino e de animais de
médio porte (caprinos, ovinos, suínos) e de pequeno porte, principalmente
galinhas e patos.
A atividade pesqueira também ocupa contingentes enormes das
populações dessa área do Maranhão que é a mais bem dotada em recursos hídricos
de superfície e de subsolo. Além de ser alcançada pela generosidade de um dos
mares mais ricos do Brasil, tendo em vista a imensidão de águas barrentas que
esses mares recebem dos rios que lhes reabastecem de forma sistemática. Duas
regiões de populações muito pobres, mas que tem um acervo incrível de belezas
naturais que também podem ser transformadas em fonte de renda, na forma de
turismo sustentável de aventuras. Pois bem, a presença de agentes financeiros
com enfoque no desenvolvimento regional, como o Basa, é fundamental para que
fluxos de recursos irriguem atividades de sujeitos sociais empreendedores, ou
de pessoas jurídicas, de qualquer porte, que necessitam de âncora financeira
para essas atividades, como nos ensinam economistas como Kalecki (de matiz
marxista) ou Schumpeter, numa perspectiva mais liberal. Além disso, em áreas
carentes a velocidade de circulação do dinheiro tende a ser maior do que em
áreas de classe média alta ou rica. Os pobres não poupam gastam tudo em consumo
de bens e serviços tão logo recebem pagamentos. E isso é majoritariamente feito
nos locais onde moram e/ou recebem os pagamentos.
Já tivemos a oportunidade de
quantificar o tamanho desse impacto, que é chamado tecnicamente de multiplicador
da base monetária, em municípios maranhenses. Inclusive adotamos a informação
em programas de mitigação de pobreza que tivemos o privilégio de desenhar e
executar para Estado pelos idos de 2005/2006. Essa pequena digressão técnica
serviu apenas para mostrar o estrago que poderia advir do fechamento de duas
agências de um banco fomentador de desenvolvimento regional. E isso apenas não
aconteceu, porque no meio do caminho “apareceram pedras”. Interposta pela união
dos funcionários das duas agencia a quem se juntaram as populações dos
municípios, as entidades de classes, agentes políticos, cidadãos comuns,
correntistas do Banco, que perceberam que eles tem condições de definirem o que
é bom pra eles. No final prevaleceu o bom senso.
As agências continuam nos seus
lugares e exercitando as suas funções, pelo menos por enquanto. Uma vitória em
primeira instância que, seguramente sensibilizará a Diretoria do Basa que
talvez ainda não tivesse tido uma demonstração da importância do Banco que
dirigem para essa parte do Maranhão. Por enquanto os clientes das duas agencias
poderão ficar sem sobressaltos.
O susto passou até a próxima batalha judicial,
porque provavelmente a Direção do Banco deve recorrer, embora tenhamos a
esperança de que não o faça. Fica a lição de Drummond, sempre que quiserem
atrapalhar as nossas jornadas, retiremos as pedras que cimentam a nossa união e
as coloquemos nos caminhos que possam interferir na nossa trajetória. Essa é
uma das grandes lições de todo esse episódio. E esse cimento precisa continuar
e se transformar numa argamassa forte para enfrentar as próximas batalhas que
se nos aparecerão.
Algumas delas é tentar reverter o atual quadro de pobreza
que prevalece nos 58 municípios onde as agencias exercitam influencias
marcantes. Temos convicção de que o Basa tem muito a contribuir nesse
condimento. As manifestações das populações, de setores organizados, de agentes
políticos nas duas regiões envolvidas nos dar a esperança que novos caminhos se
descortinarão no nosso para-brisa e as desesperanças serão vistas pelo
retrovisor. 1 Engenheiro Agrônomo, Analista de Projetos Agropecuários,
concursado do BASA; 2 Engenheiro Agrônomo, Professor Titular na Universidade
Federal do Ceará.
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