Graça Leite
Membro da Academia Pinheirense
Estou vivenciando a quarentena da corona vírus em mais uma
manhã de julho neste 2.020. na minha cidade de Pinheiro, ouvindo a alegre
melodia dos bem-te-vis contando no meu quintal, mas desta vez, sufocada por
vozes eletrônicas que veem de fora.
Fico atenta e percebo que elas partem de dentro do Banco da Amazônia
(BASA). Da minha janela vejo uma pequena aglomeração em sua porta. Alguém que
passa me informa :fecharam o Banco da Amazônia, aqui em Pinheiro e aquilo ali é
uma despedida.
As vozes que ouço são de protestos ou de saudades? Não consigo
identificá-las claramente, mas aquelas que gritam dentro de mim são misturadas dos dois sentimentos.
Sou vizinha do BASA e não é de hoje, é desde o tempo em que
aqui se instalou na década de 60 , no velho sobradão do Comerciante Albino
Paiva na Avenida Paulo Ramos; acostumei-me
com a s filas dos velhinhos
em frente ao prédio que começavam a se
formar no final da tarde e varavam a
madrugada ,esperando, a vez pela manhã de serem atendidos, em frente ao prédio e com o entrar e sai dos clientes
quando começava o atendimento a 7 da manhã. Naquela época o governo federal
havia criado o programa de aposentaria rural para os lavradores
do FUNRUAL.
Caminhões chamados de ¨pau de arara¨ chegavam de todos os
povoados do município de Pinheiro e o dos municípios vizinhos e desembarcavam
centenas de velhinhos na porta do banco ,na véspera geralmente no final da
tarde e normalmente passavam á noite no relento sentados na calçada em fila, dormindo
em papelões e cobertos com humildes lençóis, mas o que contagiava era a alegria
com as cantorias dos causos, gargalhadas, formando uma fila de idosos que se
somando ás idades teríamos milênios.
A velha Casimira, uma idosa tocadora de caixa das festas do Espírito Santo
e que morava no bairro da matriz ficava com sua banquinha de mingau de milho e
café debaixo de uma árvore aguardando a oportunidade de vender seus produtos. E
assim aquelas vidas sofridas e valorosas aguardavam a hora feliz de colocarem
no bolso o dinheirinho da tão sonhada aposentaria. Mas como sempre naquela época havia espertalhões,
chamados de marreteiros, dentro os mais
famosos eram Chiquitó e Bacana, fiavam aguardando no quarteirão acima perto do Bar de Sr. Paulo
Castro a oportunidade para oferecerem aos velhinhos cortes de costura,
relógios, sapatos uma infinidade de
bugigangas antes que os mesmos chegassem as casas comerciais , negociação
altamente perniciosa ,usando a palavra e
a boa-fé dos velhinhos, para fecharem o negócio e obterem lucros exorbitantes.
Certa vez um uma manhã chuvosa, um exame de abelhas africanas
surgiu no nada, vindo do campo para cima dos velhinhos. Foi um Deus nos acuda,
uma correia sem fim e um ceguinho que todas as manhãs, tocava com seu violão e
cantava na porta do Banco para conquistar uns trocados , não conseguiu correr e
tornou-se vítima do ataque cego das abelhas caiu, debatia-se, gritava, mas
ninguém se atrevia a enfrentar aquele enxame furioso. Somente um neto que o
acompanhava, uma criança de 10 anos, desafiou a cólera das abelhas, porém o avô
e neto foram parar no hospital. Um picado porque por não ter visão e o outro
por excesso de amor.
Esse episódio foi lembrado para demonstrar o quanto o BASA fez
parte do nosso dia a dia e da evolução histórica de Pinheiro.
Hoje exames de abelhas não mais entram na cidade próspera
agitada em que em que foram transformada
com a colaboração do Banco da Amazônia
que semeou crédito ,pagou tributos,
distribuiu alegria para os aposentados, fomentou agricultura familiar como o PRONAF , gerou
empregos ,lucro ,mas não o lucro suficiente que o consiga satisfazer o apetite
dos bancos inclusive os oficiais como o BASA
e excluir completamente a política de fomento e desenvolvimento. O BASA está
sendo preparado para se adaptar ao espírito das grandes instituições financeiras
em que tudo se resume no muito lucro,
muito, mais muito lucro. Infelizmente, já é um caminho aberto para a
privatização com certeza. E agora em plena Pandemia quando todos precisam de
mais recursos, as autoridades financeiras extremamente liberais, sem levar em
contas aspectos de uma cidade pequena do interior do Maranhão que precisa
de incremento na economia para seu desenvolvimento ao longo prazo negam o
direito de sermos socorridos, também sem sermos defendidos pelos governos Municipal e
Estadual por esta insensata e desproporcional decisão.
O Estado do Maranhão é considerado o Pré da Amazônia e porque
motivo o município de Pinheiro, não vai mais poder desfrutar do privilégio de passar
por esta por esta porta? Por acaso não fazemos parte do Maranhão? E os nossos
governantes o que dizem?
infelizmente constatamos em que esse lastimável fato aliado a outros que estão em evidência
por aqui, leva-nos a uma triste contatação que a nossa cidade atravessa
atualmente um retorno sinuoso que aponta uma placa indicativa de volta na
caminhada progressiva da nossa cidade.
Voltando ao assunto vizinhança a que
me referi no início desta crônica, o BASA mudou-se para a antiga sede do Banco
do Brasil na Avenida Getúlio Vargas em frente a Prefeitura. Coincidente eu
também mudei a minha residência para a mesma avenida Getúlio Vargas bem próximo
a ele. Daí a nossa amizade. Sempre fomos bons vizinhos e vê-lo partir assim,
deixando para trás uma economia sacrificada, espremida por pandemias, sanitária,
sofrimento e de negligências enchem-nos de tristeza.
O grande educador de Jornalista
Benedito Leite costumava dizer: ‘ONDE SE ABRE UMA ESCOLA FECHA-SE UM
PRESÍDIO.
Parodiando o grande mestre atrevo-me
a dizer “ Onde se fecha uma agência bancaria abre-se uma porta para o declínio e a pobreza
do lugar.
Adeus Banco da Amazônia e ....
obrigada por tudo!
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