Pelos jornais fiquei sabendo a sua decisão em não mais
concorrer a cargos eletivos, o que considero tratar-se de mais um ato heroico
na sua vida.
Como mãe,
não posso omitir os meus sentimentos, momento tão importante para você, pois
sei que uma decisão como essa, implica em dúvidas e sofrimentos, tal o seu amor
pela política. É como se uma grande história de amor chegasse ao fim e você, e
não a outra parte, tivesse que, tomar a decisão final. Dói e dói muito. Não que
a parceira tivesse lhe causado desilusões, pelo contrário, a política sempre
fez parte da sua vida e durante quase seis décadas de um casamento amoroso e
pacífico, ela sempre foi uma amante submissa e leal. Daí o conflito.
Com a nossa
idade, sempre avaliamos os fatos com mais coerência e graças a ela, você tomou
a decisão certa. Chegou a hora do descanso do guerreiro! Chegou a hora do povo
brasileiro fazer uma releitura da sua atuação política e reconhecer os seus
méritos. Chegou a hora da literatura, da prosa, da poesia, do viver para si,
para a família, tantas vezes sacrificada pelos compromissos públicos.
Mas
lembre-se do conselho do poeta: “envelhecemos quando abandonamos os nossos
sonhos”. Pela sua história de vida, sei que você não fará da velhice uma
vigília que incomoda, mas saberá aproveita-la muito bem, com bons sonhos.
São dúbios
os sentimentos da sua velha mãe-terra, nesta hora.
Se por um lado sinto-me quase órfão
de um filho-pai que tanto me ajudou carreando recursos públicos para nós, por
outro lado, sinto-me feliz por vê-lo livre da maledicência humana que não
perdoa aos vencedores e está sempre com as mãos cheias de pedras para serem
lançadas sobre os nobres e heróis. Todas as vezes que apedrejaram você, foi a
mim, sua mãe-terra, que eles apedrejaram. Mas, como você, não guardo
ressentimentos e, além do mais, sabendo-o livre dos encargos públicos, posso
desfrutar mais da sua companhia. Venha! A casa é sua, a família é sua, a terra
é sua!
Venha,
quando puder, participar das reuniões da APLAC; venha andar pelas ruas, sentar
nas praças; venha ver de peto o velho Pericumã e talvez até passear sobre o seu
leito em uma canoinha, deixando a mão dentro d’água pra fazer marolas; venha
experimentar esse contato direto com as suas raízes, usufruindo das energias
regeneradoras que fluem desse contato.
Pensa da
seguinte maneira:
Perdemos o
Sarney Senador da República, porém ganhamos um Sarney com mais tempo para nós,
um conselheiro, um orientador, um amigo mais chegado, mais presente e isso é tudo
o que anseia uma pobre mãe.
Para aqueles
que o consideram um derrotado, um perdedor, a sua mãe-terra manda um recadinho:
Diga a eles,
que o seu caso de amor com a política, não termina como na tragédia
Shakespeariana, pelo contrário, o Romeu e a Julieta desta história estão vivos
e bem vivos, apenas o pano de palco fechou sob os aplausos da plateia que, de
pé, grita uníssona:
Bravos!
Bravos!
Bravos!
Com
grande afeto, sua mãe-terra
Cidade
de Pinheiro
Graça
Leite
APLAC
– Cad.Nº 21
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