domingo, 24 de outubro de 2021

CENTENÁRIO DO ACADÊMICO LOURIVAL DE CASTRO GOMES

Cabelos brancos, alto e magro como uma juçareira ao vento,  fala polida e erudita, esse era Lourival, Seu  Lola, britânico nos horários, passando pelas ruas do Bairro da Matriz, quase sempre em direção ao comércio de seu Inácio, esquina das ruas Antenor Abreu e Joaquim Mendes, onde sentando-se de pernas cruzadas, com toda elegância tomava cerveja gelada, com uma alegria austera, como um aristocrata que fazia questão de dar significância a tudo que fazia, independentemente da atitude ser grandiosa, ou simples, como tomar cerveja em uma quitanda.


 Uma bibliografia viva que pensava alto, transitando entre passado e presente enquanto sonhava com o futuro, com muita lucidez, afinal não bebia cerveja para se embriagar, mas sim para refrescar a mente e alegrar o espirito com uma boa conversa. Vivia muito bem trajado, com esporte fino, composto quase sempre de calça branca de linho ou cambraia e sapatos brancos (impecáveis apesar das ruas de piçarra), e a camisa com cores vivas e estampas alegres, ou espalhafatosas, mas com muita elegância, que  englobava um chapéu branco parecido com esses do panamá. 


Como amigos tinha todos que o tratassem bem e adorava promover festas para reuní-los. Alegre-zangado, temperamento de uma personalidade combativa, que detestava covardia e injustiça e, por isso mesmo, andava geralmente com um canivete para não facilitar ou dar chance ao azar.


Mas sua arma mesmo era a alegria e uma vareta, espécie baqueta, com a qual andava. Com ela em punho dizia: “passa cachorro.” Era suficiente um cão bandoleiro vir em sua direção latindo, ou mesmo gente saliente faltar com o respeito e aquela inofensiva vareta se tornava um poderoso instrumento de defesa contra cachorro e gente.


A cerveja era só pretexto para conversar, inclusive em dias chuvosos, quando tomava um chopp, "bem gelado" para espantar a mofina. Gostos excêntricos de quem foi um excelente professor universitário, conhecedor de laboratios químicos e parasitologia, mas que se imortalizou nas artes plásticas com sua criatividade fecunda de simplesmente bem viver seus 92 anos com muita autenticidade.

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