Aymoré
Alvim. APLAC, ALL.
Pinheiro ate
1970 era uma cidade pequena, tranquila e agradável. Era uma cidadezinha segura.
A qualquer hora que a gente saísse de casa, podia deixar a porta da rua
encostada porque ao voltar a encontrava do mesmo jeito. Bons tempos... Nas
décadas de 40 e 50, era melhor ainda. Todo mundo conhecia todo mundo, desde a
Faveira até Pacas, passando por Alcântara, Fomento e Enseada, os principais
bairros da época.
No final da
década de 1940, a população ainda era muito pequena. Até pra morrer era
difícil. As pessoas morriam de velhas. Diziam que era a farta dieta à base de
peixes, principalmente, piaba e bagre. Logo, não havia necessidade de ter uma
funerária.
Por isso,
para qualquer das raras necessidades o marceneiro, mestre Estevão, resolvia o
problema, na marcenaria, que ficava na área externa da sua casa, próximo à
Praça da República, atual José Sarney. Com ele trabalhava um rapaz de,
aproximadamente, 30 anos. Não era nem alto nem baixo, porém muito magro. Diziam
que entornava “uma branquinha” como gente grande. Por isso, nas
segundas-feiras, geralmente, não ia ao trabalho, mas o mestre Estevão já estava
acostumado com Zé de velha Balbina e nem se importava mais.
Durante o
carnaval, era costume o prefeito da época contratar a bandinha do mestre
Arlindo para tocar, no coreto da praça, durante os três dias, das 17:00h até às
22:00h. Próximo ao coreto, seu Josias Abreu sempre armava um carrossel para
distração dos foliões, principalmente, crianças e jovens. Por falta de energia,
o carrossel era movido por quatro homens.
Em um desses
carnavais, Zé estava lá pela praça quando o chamaram para ganhar uns trocados
rodando o carrossel. Não se fez de rogado, tirou a camisa e mãos à obra. Quando
acabou o movimento, fizeram as contas e pagaram Zé.
Pra esticar
a festa, ele se encostou a uma das barraquinhas armadas na praça e tomou todas.
La pelas duas da madrugada, sem querer ir pra casa, no bairro de Alcântara,
resolveu ir curtir a ressaca, na marcenaria do mestre Estevão. Ao chegar,
deitou-se num caixão que havia sido encomendado, fechou a tampa e dormiu.
Pela manhã,
chegaram uns caboclos do Tiquireiro que foram apanhar o caixão. Acharam meio
pesado, mas o mestre Estevão disse que devia ser da madeira que ainda estava
verde. Também, não abriram e o levaram.
Já no meio
do caminho, sol a pino, pararam para descansar debaixo de uma mangueira onde
puseram também o caixão. Enquanto procuravam umas mangas, Zé acorda, levanta a
tampa e se senta no caixão. Um deles olhou e gritou:
- “Virge,
gente, tem um defunto no caixão e tá vivo”.
Nessa hora,
não ficou ninguém. Zé meio atordoado com a ressaca e com medo dos caboclos
correu também para o mato e se escondeu.
Daí a pouco,
voltaram ainda meio assustados. Reviraram o caixão de todo jeito e não viram
nada.
- Rapaz, eu
tenho certeza que eu vi um defuntinho moreninho olhando pra mim.
- Todo mundo
viu, rapaz. Esse caixão tá amaldiçoado. Vamos levar esse troço de volta, disse
outro.
E, assim, o
fizeram. Chegaram a Pinheiro já de noitinha e relataram tudo pra seu Estevão.
- Vocês
estão exagerando, gente. Como poderia haver defunto no caixão? Vamos fazer o
seguinte, peguem esta lamparina e deixem o caixão lá na marcenaria que eu vou
ja pra lá.
Nesse
ínterim, chega Zé, morto de cansado, e vai também para a marcenaria. Quando os
homens chegaram:
- Tem gente,
aí? Perguntaram.
- “Tem eu,
podem entrar”.
- Uai,
mamãe, é a alma do caixão. Corre que ela é ligeira demais. Disse um deles. Os
outros atiraram o caixão no chão e correram em disparada para a rua.
- Venham cá,
disse-lhes Zé que, ao chegar à porta, não viu mais ninguém.
- Onde estão
os homens, Zé? Perguntou seu Estevão que chegava, nesse momento.
- “Sô, eles
jogaram o caixão aí no chão e saíram correndo. Quando eu cheguei na porta, já
não vi ninguém”.
- Vai vê que
esses homens ainda estão cheios de cachaça do carnaval. Tão enxergando demais.
Fecha tudo aí, Zé, e pode ir pra casa. Até amanhã.
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