Salomão,
na sua sabedoria, que vinha da inspiração de Deus, definiu de maneira jamais
superada, e milhões de vezes citada ao longo dos milênios, os nossos tempos da
vida no Eclesiastes, dizendo que “existe um tempo próprio para tudo e há uma
época para cada coisa debaixo do céu”. A vida da gente nos ensina esse caminho.
Eu, agora, achei que era tempo de parar. Deus, em Sua generosidade, deume
vida longa, fazendo-me ser o político mais longevo de toda a história
brasileira. Mesmo vindo do Império, onde no Senado os mandatos eram vitalícios,
fui o mais longevo de todos, completando quase 60 anos de vida política. Depois
de mim, vem o Visconde de Abaeté, que teve 54 anos de mandatos. No Senado fui o
que mais tempo já passou na República, com 39 anos, seguido do Rui Barbosa com
32.
Ocupei
todos os cargos federais: deputado federal, senador, vicepresidente,
presidente da República, presidente de partido, líder de Governo e Oposição e
quatro vezes presidente do Congresso Nacional, além do honroso cargo, que muito
me enobrece, de governador do Maranhão, conseguido em eleição direta. Na
história do Maranhão não tenho referência próxima. Não relaciono esta
trajetória por vaidade, mas para reconhecer que tenho motivos de parar. Prestei
grandes serviços a minha Pátria, inclusive o maior de todos, convocar a
Constituinte e assegurando a transição democrática que deu ao país o período
mais duradouro de tranquilidade constitucional. Os maiores avanços sociais
começaram comigo, que deixei a Presidência com uma sociedade verdadeiramente
democrática implantada no Brasil, com o pleno exercício da cidadania, que hoje
se afirma na sétima eleição direta e com o reconhecimento nacional da minha
contribuição às instituições brasileiras e à democracia que o país vive.
É verdade
que ao lado dessa vida política consegui realizar uma obra literária que me
levou à Academia Brasileira de Letras, onde também hoje sou o decano. A minha
bibliografia, publicada ano passado, inclui 110 títulos e 164 edições, com
traduções em 12 línguas. Tenho todas as condecorações nacionais no mais alto
grau e sou detentor, também, de grandes distinções estrangeiras, inclusive a
GrãCruz da Legião de Honra da França, a mais alta distinção mundial e títulos
de doutor honoris causa de muitas universidades mundiais, inclusive das de
Coimbra, Moscou e Pequim. Sou membro do InterAction Council que reúne 40 exchefes
de Estado e de Governo do mundo todo, inclusive Carter, Clinton, Schmidt,
Giscard d’Éstaing, Gorbachev.
O grande
escritor brasileiro Joacy Goes escreveu um tratado sobre a inveja. Corneille
afirmava: “nunca um invejoso perdoa ao mérito”; Balzac: “é tão natural destruir
o que não se pode construir, negar o que não se compreende, insultar o que se
inveja”. É natural que tenha construído inimigos e o motor deles é justamente a
inveja que habita as pessoas. Tudo isso, saindo do Maranhão, de uma pequena
cidade, Pinheiro, dos mais belos campos do mundo, de família humilde e sem
protetores.
Abri o meu
caminho e, como dizia Fernando Pessoa, “cumpri contra o destino o meu dever”.
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