Encontrei um amigo meu que veio dizer-me que o Congresso que está discutindo a reforma política devia examinar não somente o fim das coligações, a duração dos mandatos, a extinção dos pequenos partidos, mas também a periodicidade das eleições e me sugeriu que falasse aos parlamentares que conheço que discutissem a possibilidade de fazer eleições todo ano. Eu fiquei curioso com proposta tão esdrúxula, uma vez que implicaria a redução de todos os mandatos para um ano, além dos gastos com eleições anuais. Ele me disse que era necessário porque, em geral, os eleitos nos primeiros anos não queriam nada com trabalho e, no ano da eleição, eles corriam para fazer obras e mostrar assim que eram operantes, e o povo acreditava que eram trabalhadores e, assim, votavam no dito cujo.
E me disse que, em seu município, foram três anos de pasmaceira, mas, agora, deram um remédio para a memória do governador e este lembrou do município e do prefeito, e eles, juntos, começaram a trabalhar. Disse-me mesmo que só em Imperatriz fizeram mais de 60 quilômetros de asfalto. Criaram mesmo um programa “Mais Asfalto e Mais Poços” e começaram a construí-los numa pressa de fazer gosto.
Eu, também, botei a minha memória para funcionar e lembrei-me de quando fui candidato a governador em 1965, no bairro do Cavaco, hoje bairro de Fátima. Encontrei as ruas daquele bairro esburacadas e uma porção de canos ao lado e perguntei aos moradores do lugar o que era aquilo e me responderam: “Obras de eleição. Como aqui nunca teve água, estão botando os canos na rua e abrindo valas dizendo ao povo que era resultado da proximidade das eleições”. Eu, no comício que ali realizei, explorei o fato, mas não tive a ideia de sugerir que se fizesse eleições todo ano. Naquele tempo, era água para boi não beber e, agora, é asfalto que é necessário e, já que se tem dinheiro para fazer agora, deixou-se para fazer às vésperas das eleições para, assim, “engolobar” a população, como se diz na língua popular do Maranhão.
Disseram-me, também, que, em São Luís, não é diferente e que era asfalto nos bairros como nunca tinha se visto, e as ruas estavam ficando bonitinhas, o que é muito bom.
Mas, já que não vou fazer uma proposta dessa de eleição anual, vou dizer aos novos prefeitos agora eleitos que trabalhem logo no primeiro dia em que assumirem, empreguem bem o dinheiro público e irão ver que ficarão livres de serem acusados das “obras da eleição” e ficarão na história dos seus municípios como prefeitos trabalhadores e, em vez de obreiros de urnas, ficarão como benfeitores de sua terra.
Mas vou desiludindo logo o meu interlocutor, citado no princípio do artigo, para dizer da minha descrença quanto ao êxito quando o Congresso votar qualquer reforma política. Em todas as legislaturas que participei em 52 anos de parlamento, saindo como o decano da República, em todas elas vi a discussão sobre reforma política, sua necessidade para acabar no princípio com a fraude, depois, com o abuso do poder econômico, depois do poder político e, ultimamente, com a proliferação dos partidos, deformando a democracia e sendo utilizados para tempo de televisão e outras manobras mais feias.
Mas a verdade é que, com todos os defeitos, nós, hoje, somos a segunda democracia do mundo ocidental, com cem milhões de eleitores, tecnologia de votação, diga-se, máquina de votar. E eu me sinto feliz porque iniciei a informatização das eleições, vim ao Maranhão com o presidente do TSE, ministro Nery (da Silveira), receber o primeiro título eletrônico, marca de nossa saída do título com retrato e fácil de falsificar. E convoquei e participei da Constituição de 1988, que construiu uma sociedade voltada para o social, hoje beneficiando o povo e os mais pobres.
Outro dia, um eleitor do Amapá me perguntou: “O que o senhor fez por mim?” Eu perguntei: “Você é trabalhador?” Ele respondeu: “Sim”. “Então, anda de ônibus?” Respondeu: “Sim”. Disse a ele: “Pois saiba que o vale-transporte de graça que paga sua viagem fui eu quem lhe deu. O vale-transporte, criado por mim”.
Não é de eleição. É sempre!
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